Suicídio consciente: precisamos conversar sobre ele

Muito se tem dito sobre o suicídio na atualidade, um assunto extremamente tabu, amplamente discutido nas ciências psicológicas mas abordado com muita cautela com a população em geral. Inúmeros são os casos a cada ano e uma altíssima incidência de subnotificações, ou seja, muitos casos ocorrem sem que a população geral fique sabendo, provavelmente por medo de que se propague uma ideia cada vez mais banalizada de auto-extermínio como solução. 
O grande problema de não se falar sobre o suicídio ou o risco do suicídio é que, ao se transformar em um tema tabu, abrimos espaço para que inúmeros mitos e inverdades sejam pensados e propagados. Possibilita, também, que cada vez menos famílias ou grupos de apoio saibam como agir quando se deparam com pessoas que pensam sobre isso a todo momento e precisam de atenção especial. Mas o que leva uma pessoa, afinal, cogitar dar fim à própria vida?

O suicídio, a tentativa de suicídio e a ideação suicida são incidências extremamente comuns no cotidiano de diversas pessoas que possam estar vivenciando momentos de difícil enfrentamento, especialmente e mais gravemente entre aqueles que se vêem sem uma rede de apoio, ou seja, que acreditam e sentem que não há onde se segurar, não há a quem recorrer. 
Mais comum vinculado à vivência da Depressão, o suicídio, ao contrário do que se propaga como mito, é uma escolha frequentemente pensada durante um bom tempo e amplamente planejada por aqueles que o escolhem como solução. Assim, a pessoa que cogita dar fim à própria vida em grande parte dos casos já está em sofrimento psíquico há um bom tempo. Não vê soluções melhores à frente, sente-se desamparada e em desesperança total, acredita que não pode se abrir com familiares ou amigos ou que não há como ajudarem e, portanto, desistir de tudo passa a ser o único caminho possível. 
Não é necessário dissertar sobre o tamanho do sofrimento interior ao qual uma pessoa que cogita o suicídio está submetida. Por se tratar de algo amplamente pensado, repensado e planejado, esta pessoa pode estar incerta ou com medo de tomar a decisão e frequentemente deixa SIM sinais de que está em sofrimento. Assim, discordando de mais um mito propagado pelo senso comum, uma pessoa que possui ideações suicidas dá sinais frequentes de que está em sofrimento. Basta que percebamos uma mudança na motivação diante da vida, da disposição de levar a rotina, de mais "moleza" e cansaço, de humor mais deprimido, de frequente isolamento ou afastamento de familiares e amigos. Se isto está ocorrendo com alguém de proximidade, atenção. Não é necessário sentir-se magoado ou rancoroso por esta pessoa pensar ou sentir que está desamparada. Por mais que os familiares e amigos estejam por perto, é uma questão subjetiva e de percepção da própria pessoa de si mesma e do mundo. A desesperança e a desmotivação transformam as realidades em experiências de mais sofrimento e isso não significa que esta pessoa está desmerecendo ou desconsiderando sua presença em sua vida. Significa que interiormente ela acredita que tudo a seu redor não poderá diminuir seu sofrimento e sua dor, deixando apenas o suicídio como solução.
Outro mito extremamente propagado quando se fala em suicídio é o pensamento de que se uma pessoa já tentou várias vezes e nunca conseguiu, ela está apenas querendo chamar atenção ou está fora de perigo, pois de fato não tem desejo de conseguir. Comportamentos como estes, de tentativas de suicídio, por mais que não tenham adquirido êxito, já são fortes indícios de que esta pessoa está em sofrimento. Não é possível mensurar o tamanho ou a profundidade da dor que existe no coração de uma pessoa que busca a tentativa. Assim, não importa muito interpretar ou desconsiderar a tentativa, por não ter tido êxito. Importante é compreender que, buscando chamar atenção ou não, esta pessoa já se encontra em sofrimento psíquico e precisa de atenção e cuidado. Frequentemente algumas tentativas iniciais são feitas e, a depender da postura dos familiares, amigos ou sociedade em geral, a pessoa se sente ainda mais compelida a tentar outra vez e finalmente conseguir.
Assim, o que é necessário ser propagado é que o julgamento diante de uma ideação ou uma tentativa de suicídio sem êxito acaba por alimentar novas tentativas ou concretizações de fato. Se esta pessoa cogita ou simplesmente tenta dar fim à própria vida, está no mínimo vivenciando algo que demanda atenção e, neste momento, por mais que a crença seja de que a pessoa é "fraca", "quer chamar atenção" ou "se quisesse, conseguia", é necessário despertar para os sinais de que tudo pode ficar muito pior se esse tipo de pensamento continuar sendo alimentado. Esta pessoa se sentirá ainda mais desamparada, mal compreendida e ainda mais sem soluções alternativas. 
São inúmeras situações mentais e psicológicas que levam as pessoas a pensarem e tentarem suicídio. No entanto, minha tentativa é de chamar à reflexão de que o suicídio não está vinculado somente a questões psicopatológicas, no sentido de que estamos afastados desta realidade por se tratar de um Transtorno Mental. Transtornos Mentais estão cada vez mais frequentes na população e grande parte das pessoas acometidas por uma Depressão Maior, por exemplo, não buscam ajuda, nunca receberam diagnóstico e, obviamente, não se encontram em tratamento. Mas não é somente na Depressão que existem ideações e tentativas de auto-extermínio. Assim, ao invés de buscar rotular ou classificar as pessoas que pensam sobre suicídio, o ideal é pensarmos que toda e qualquer pessoa que vivencie um momento de sofrimento, seja ele qual for, pode estar sujeita a entrar neste padrão. E isso significa que pode ocorrer com qualquer um à nossa volta e precisamos estar atentos.
É plenamente possível que os sentimentos e pensamentos que levam à tentativa de suicídio sejam ressignificados. É necessário buscar ajuda especializada para que seja feito um acolhimento e uma abordagem terapêutica ideal não somente com a pessoa, mas com sua rede de apoio. Assim, se você está em sofrimento, está cogitando o auto-extermínio, não desista de pedir ajuda. Há inúmeras possibilidades de cura destes sentimentos, inúmeros profissionais capacitados para este tipo de tratamento e acredite, é possível transformar tudo isso e alcançar padrões de felicidade e paz interior. 
Se você pensa que a família está longe de compreender tudo isso ou que nunca poderá diminuir esta dor, acredite: o atendimento especializado busca gerar esta compreensão e busca afinar os laços familiares para que os conflitos possam ser resolvidos e o amor prevaleça. 
Se você é o familiar ou o amigo que percebeu que está diante de alguém em sofrimento, acredite na força do seu amor e no quanto ele pode ser curador. É necessário se conscientizar da importância de buscar ajuda, o mais rápido possível e buscar humildemente dar apoio, sem julgamentos, a esta pessoa. Não somente ela pode ser beneficiada pelos tratamentos corretos, mas a família como um todo, buscando padrões mais saudáveis de convivência e compreensão.
A vida realmente é feita de momentos desafiadores. Muitos de nós sucumbirão em determinados momentos e precisarão, às vezes, de algumas palavras que traduzam esperança. Nenhum de nós está livre desta possibilidade e hoje podemos auxiliar um próximo, mas amanhã poderemos estar necessitando de auxílio. Assim, vamos propagar ideias mais humanas sobre sofrimento psíquico, mais compreensão e compaixão. Isso é plenamente humano, mas possui solução. 




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