Estudo de caso: a culpa do faraó



Lucas é um rapaz de 21 anos que está realizando o processo da Psicoterapia Reencarnacionista de forma já bastante consciente, pois já estava familiarizado com grande parte dos conhecimentos trabalhados, além de já estar em uma caminhada mediúnica sólida há um tempo. Mas resolveu dar início à terapia pois estava vivenciando um momento que demandava reflexão e mudança de atitudes. Vamos mergulhar?

"Eu vejo muita gente lá embaixo, como se eu estivesse num local bem elevado. Tá de noite. As pessoas olham para mim, esperando algo, um discurso, não sei... Todas aquelas pessoas, roupas muito simples, pobres, maioria sem chinelo, camisa, mulheres muito magras, crianças agarradas a elas, também muito magras. Tou olhando de cima para baixo, careca, sentimento insuportável de superioridade. 'Por que eu tenho que fazer isso? Quem são elas perto de mim? Esses pobres... Mendigos!'. Eles buscavam esperança, boas notícias, tempos mais fáceis, impostos abaixarem para viverem a vida sem medo. O rei acreditava que as pessoas escondiam porque não queriam dar o que era de direito dele. Tudo era do rei, o poderoso, nossa, que ridículo. Meu Deus do céu, sou eu... Lá estou eu, sentimento de nojo e angústia, repulsa pelas pessoas que olham com esperança. Não havia isso no coração, eram só instrumentos de poder, só peças, como xadrez, que eu aprendi com aquele homem...
Todos eles olhando com esperança e eu, na sacada da minha casa/ palácio bem antigo, lugar quente, areia... Deserto, calor, frio, calor, frio, pessoas morrem por isso e eu no palácio, porque sou melhor que eles, sou Deus. Sou faraó, sou o próprio Deus. Eu falo que o reino tá em guerra contra os 'homens da ave', os romanos, homens das águias, mas não eram nada perto do poder divino que era meu. Eu os esmagaria com fúria, queimá-los com o fogo da ira, como o próprio Anúbis, porque eu era a expressão de Deus na Terra. Somente meu caminho era realidade.
Lá eu falando, discursando sobre guerra com orgulho, que ia esmagar todos. O povo não tem orgulho, estão cansados disso, do conflito, da fúria. Não sabia, estava preso na própria arrogância, no poder que eu achava que tinha, que não vi que eles só queriam paz, tranquilidade, viver com seus amores, não se importariam de chamar os romanos de irmãos, não se preocupavam com sangue ou glória. Fracos. Não têm um pingo de perspectiva, que o império do faraó ia dominar os romanos.
Minha mulher comigo, que adorava aquilo,  amava tudo, esposa do faraó, que carregaria outro faraó. A rainha que comandava todos. Gostava de cada segundo. Exigia que a tratassem como deusa, expressão da fertilidade. Juntos trouxemos miséria. Tanta... Não tinha mais que 30 anos quando meu pai morreu, outro fraco, que tratava os sujos como irmãos. O povo amava ele. Prometi que nunca seria como ele. Eu sabia que não seria daquela forma, senão não seria o rei do mundo. Não gostava de saber de ninguém que se impusesse, todos morreram. Obcecado com a guerra, apesar de nunca ter ido. Os deuses são generais, sou comandante, não um reles soldado. Eles que morrem, pois suas vidas não valem nada. Só servem para aumentar a vontade.
Assim foram os primeiros anos, fazia o que queria, não me importava com os suplícios, eu sou faraó, eles não são nada. Se não me agradam, temos troncos para a cabeça ser retirada. Até os romanos chegarem. Tudo da minha forma, todos os prazeres do mundo, tudo o que eu queria eu tinha. Chegaram os romanos. Hora da conquista. Vamos à guerra em meu nome. Fomos. Vermes contra vermes, os meus em primeiro lugar. 15 anos, passam 15 anos. Nada da vitória. Romanos estavam cortando os suprimentos de água, queijo, leite, tudo... Quanta incompetência desses vermes que me servem. Patético. Como que eu não ganhei, como não sou rei do mundo, sou maior que todos os deuses! Ainda assim, os malditos de pele branca não vão embora, não são derrotados.
Vou buscando a fonte da incompetência. Começo com os generais, chamo um a um, pergunto qual a fonte da incompetência. Mentem. Todos morrem. Chegou um que era meu amigo desde a infância, que não perdia batalhas e falou 'não estou lutando pelo meu Deus, pelo meu amigo, que há muito se perdeu pelo caminho ensinado pelo pai. Aquele é meu faraó. Você é meu irmão, mas não é faraó, Você não entendeu o que ele ensinou. Não é poder ou glória. Quanto maior a sua liderança, mais poder você tem com a própria vida. Você é responsável por todas as pessoas do Egito, mas não entendeu até hoje. Sabe como não perco? Porque eu não entro pensando em levar glória ao Deus, mas em sair com o mínimo de homens. Não perco por você... Você me decepciona. Poderia ser o maior rei do Egito. Passamos por dificuldades mas o povo sobreviveu, pelo amor do seu pai e você sempre teve a fartura que ele deixou para trás. Não pensou um segundo fora da sua cabeça. Você é sequer homem. Menos Deus'.  Primeira vez que alguém falava assim comigo em muitos anos. Percebi... Depois de 15 anos daquele discurso, percebi que só os levei para mais miséria, para a morte...Alegria e paz no meio do sofrimento, era algo que eu nunca tinha visto, a beleza da vida. Achava que o que eu vivia era a felicidade. Vi uma família, mal tinham o que comer, mas rezavam ao Deus do Sol com todo amor, sabendo que a luz ia brilhar mais um dia para eles.
Não sei o que aconteceu comigo, mas nunca mais fui o mesmo. Jamais. Retornando ao palácio, mandei um mensageiro para o César, perguntando se ele ainda tinha interesse no conhecimento, pois se sim, haveria a cooperação e a coexistência, pois meu povo não aguenta mais guerra. Duas luas cheias e o mensageiro, com presentes de César, sorriso no rosto, dizendo que ele aceitou. A guerra acabou, soldados voltando para Roma. Que ele vai enviar caravana de estudiosos. Se eu quisesse saber algo de Roma, estudava com eles. Esse era o caminho da compreensão e cooperação.
A partir disso minha vida mudou, tentei conectar com os ensinamentos do meu pai, que andava nas ruas, abraçava as crianças, era mais um homem, assim como todos.
Eu num salão, cheio de ornamentos de ouro e jóias, vestes ricas e meu irmão general com vestes militares. Sozinhos ali, luz das chamas, detalhes em marfim, chão de pedra branca. Fui à sacada pela 1ª vez, vi o sofrimento de todas elas e era tudo por minha causa, minha culpa, eu era a causa. O César só queria o caminho seguro para entrar no continente, ele não queria a minha terra, meu povo, só entrar... Atravessar o Nilo e desbravar novas terras para seus escribas. Esse César era apaixonado pelo conhecimento, pelo desenvolvimento, pela academia, Filosofia, o 1º em gerações que não expandiu Roma, só queria explorar o mundo. Eu encarei como a oportunidade de me aproveitar de um homem fraco que não queria conquista. Pela 1ª vez em 4 décadas, quis sair do meu castelo, que era falso, e ver meu povo. Me despi das vestes, pedi que trocasse comigo um dos serventes, sua roupa que eu desdenhava. Fui. Os guardas tinham receio da minha vida, mas eu sabia que a população não conhecia meu rosto.
Saí andando, muita miséria, muita... Ao lado do meu palácio. Mas também tinha felicidade em coisas simples. Consegui encontrar tudo o que eu não tinha no coração, tranquilidade, paz, entendi como ele sorria... Senti o peso da responsabilidade, não a glória do poder. Qual o caminho agora? Meu povo estaria aberto para um homem arrependido? Eles acreditariam?
Com essa vontade as coisas foram mudando... De pouco em pouco me tornando o homem que meu pai foi e o povo me via mudando, via que eu os olhava frente a frente, que me compadecia com as dificuldades e que todas as coisas que podia fazer para remediar, eu faria. Muitos anos... Buscando como ser um bom líder. Eu não acredito que eu tenha achado, mas tentei... Me desfiz de muitos luxos, foram indo embora... Era rico, mas não suntuoso. A rainha não tinha mudado, não viu o que eu tinha visto. Continuava a mesma. De pouco em pouco conquistei a admiração do povo e o ódio dela, ela quis ser a rainha do mundo, ela era a própria deusa. Foi me odiando porque eu não era mais digno de estar com ela. Eu não me importava, eu era o rei, mas era outro, não dava mais valor àquelas coisas. Fomos envelhecendo, ela amargurando mais.
Meu filho já era um homem. Eu um velho. Me preocupei porque vi nos olhos dele a mesma paixão que eu tinha e via que a rainha incentivava isso, mas eu tinha um reino enorme para comandar e não conseguia tempo para alertá-lo sobre a responsabilidade. Apesar de tudo, eu ainda era feliz. Fui feliz durante boa parte desses 40 anos, porque havia encontrado propósito, por mais que a família não me acompanhasse...
Uma noite tal qual a do meu 1º discurso, vou me deitar, após uma caminhada e tal como os velhos homens, não acordei mais. Durante a juventude eu pensei que seria assassinado por ser grande e, depois da mudança,  eu ainda achava, por ser aberto às pessoas, todas elas podiam ser espiãs. Mas tive sorte. Quando a paz reinou no meu coração, ela reinou no reino. Então me fui sem arrependimentos... Só um homem, não um rei, não um faraó, nada disso...
Chegando do outro lado, no que eu chamo de Plano Espiritual, fui recebido por um guerreiro dourado, um cavaleiro dourado. Todos os lugares que eu olhava eram cheios de tranquilidade e de beleza. Falo que eu nunca esperei ser recebido por um guerreiro no mundo dos mortos, eu achava que depois de tudo o que fiz, seria mais um rei escravizado. O guerreiro diz que eu poderia ter sido, mas escolhi não ser, que eu fiz o que muitos não conseguiam, entender que existe poder, que eu não sou nada além de homem. Meus esforços que fizeram com que eu viesse até aqui.
Mas e agora? Não li nada sobre isso. Sei que agora é hora de esperar o fim dos tempos, mas o que fazer? Ele diz 'não, meu amigo, não existe tal coisa... Vem que está quase na hora da grande festa. Faltam muitos séculos, mas você vai ver daqui. O momento pelo qual se preparou por milênios, a mudança deste mundo está para acontecer... Porque o Rei está para viver neste mundo finalmente'. 'O grande Rei? O Deus Sol vai descer?'. 'Não, mais brilhante que o Sol... E você verá. Tudo será diferente. Você foi o último rei antes da era dele, porque depois a Terra não terá mais reis. Pois não se reconhecerão os homens como reis, só o Reino de Deus'.
E assim se fez... No momento, após uns 200 anos, fui capaz de ver uma luz enorme envolveu o planeta e um jato de luz, um raio poderoso, veio de um local distante, rodeado de espíritos muito maiores que aquele planetinha pequeno. Como se estivessem protegendo o raio. Ele veio maior que o próprio Sol e ficou só um filete de luz, que atingiu o mundo. E assim como o cavaleiro disse, realmente, a partir dali não houve mais reis...
Estávamos todos juntos, esperando aquele momento de grande celebração. O cavaleiro dourado e seus irmãos celebravam muito. Eu também... Naqueles 150 anos ele me disse exatamente o que era o raio de luz. Senti muita alegria, porque tava na hora da mudança. Os homens jamais seriam tão baixos como eu fui... E assim, após tudo isso, o cavaleiro diz 'agora, amigo, temos trabalho a fazer'. 'que trabalho?'. 'As coisas vão mudar muito. A missão Dele é também mudar como as coisas funcionam deste lado e daquele. Vamos ao trabalho. Muito a ser construído'. 'então vamos, não sou bom em construção, mas me empenho.' 'você é melhor do que se lembra, meu irmão'. Eu reconheci o cavaleiro, era meu amigo general, que me relembrou a compaixão, todos os ensinamentos do meu pai. Naquele momento eu falei 'é você?' e ele 'sim! Vamos pegar os martelos. Nosso Pai nos aguarda'. Lá fomos nós... Ao trabalho. Não sei quanto tempo, afinal percebi que não me importava com o tempo. Pouco a pouco fui me desfazendo da imagem física e retomando a consciência e percebendo que era uma ilusão, eu tava construindo com a manipulação do espírito, assim a roupagem foi indo embora. E se cumpriu nossa missão, que pela Graça de Deus, foi dada a oportunidade de contribuir à obra de Cristo, tão enorme, tão enorme, são tantos espíritos! Muitos espíritos!¹. Assim, logo que se encerrou, aguardou-se o retorno. Tudo muito mais sutil... Assim houve o retorno. Porém, como esperado, nenhum de nós pode sequer ver a presença de Cristo, ele era uma luz muito maior do que qualquer coisa. Eu seria incapaz de vê-lo. Quando a luz passou, eu abaixava a cabeça por respeito. Eu e meus dois irmãos, a serviço do Nosso Pai, decidimos que tendo feito aquilo, poderíamos voltar. E assim como viemos, fomos juntos, mais uma vez.

'Nunca se esqueça dos pequenos. É importante ter a consciência e a humildade de saber exatamente seu tamanho face à grandeza de Deus Pai Todo Poderoso e da luz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todos têm seu papel, até meu filho que se julga pequeno, também tem. Não existe papel mais ou menos importante. Enquanto todos não forem juntos, todos ficam juntos, não importa o tamanho da sua missão. Cada um terá sua evolução, aquilo de seu merecimento, mas também caminhamos juntos. Tua missão é tão importante quanto a minha. Responsabilidades maiores ou menores, mas também pelas diferenças de padrão vibratório, mas não sou melhor ou pior do que ti. Somos todos irmãos porque somos filhos do Pai Celestial. Então filho, felicidade ter contato, são raras e serão raras as vezes durante a encarnação. Mas não esqueça, são os verdadeiros pequenos que serão capazes das maiores obras, curas, emanar o maior amor. Na humildade e na mansidão do coração encontra-se o segredo. Numa vida só tu vistes a redenção do espírito. Vida de sucesso. Outras nem tanto. Essa foi de alegria para os mentores, afinal, foi a primeira em que aprendeu a falar do amor, de grande importância para sua história. Nessa aprendeu a deixar o amor entrar no coração. Por isso a oportunidade de participar da obra de Nosso Senhor Jesus Cristo desse planeta. Não há ninguém que não tenha uma partícula de Deus no coração, tudo o que é necessário que se faça é espanar as teias do coração e deixar o Sol entrar. Compreenda as falhas, mas não se conforme com elas. Não existe falha grande ou grave que não possa ser trabalhada, com luz e amor. Nunca se esqueça dos pequenos. (M.A.)"

Lucas, em suas psicoterapias, relata que em muitos momentos de sua vida deixou o "faraó" surgir. Momentos em que a arrogância ou a falsa crença de superioridade podem se fazer presentes até mesmo de forma sutil, algo que está presente em grande parte das pessoas encarnadas na atualidade. O simples pensamento de que sabe mais do que alguém, de que é melhor do que alguém em um aspecto ou outro, ou até mesmo pensar que não merece viver certas coisas, podem ser momentos em que expressamos esta arrogância de maneira imperceptível.
Mas é interessante perceber, também, que ao mesmo tempo em que o faraó esteve presente em alguns instantes, também há, frequentemente,um sentimento de culpa internalizado, que acaba se manifestando como auto-boicote, por vezes até mesmo passividade, no sentido de aceitar certas situações por achar que merece. Qual deve ser, portanto, o meio termo? Não seria importante recordar que, apesar de o faraó ter feito escolhas não muito produtivas no início da vida, depois conseguiu se redimir? Como o próprio mentor disse ao final da regressão, esta foi uma vida de sucesso, pois foi a primeira vez em que aprendeu a deixar o amor entrar no coração e isso é um grande salto para um espírito. Então não seria importante internalizarmos que cada um possui em sua caminhada escolhas pouco acertadas, mas é justamente por isso que estamos aqui, para nos redimirmos de nossa própria consciência? Assim, aprendemos com o passado que devemos superar alguns traços de personalidade, como a soberba e a arrogância, mas ao mesmo tempo percebermos que de nada adianta entrarmos na culpa e na auto-flagelação, pois isso nos leva a outros extremos também maléficos para nossa caminhada.

Mais uma oportunidade de verificar a magnífica atuação dos Mentores Espirituais e o tamanho do amor incondicional que carregam por nós, sempre nos estendendo a mão, mesmo quando nos julgamos a pior das criaturas.

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¹ Essa narrativa diz respeito ao momento em que Cristo esteve encarnado, nos primeiros anos de sua vida, quando construía os Planos Espirituais junto a inúmeros espíritos que o auxiliavam. Pelo relatado, uma das grandes missões de Cristo era não somente trazer o exemplo na Terra, mas trazer melhores condições e estruturas espirituais para abrigar os homens quando desencarnados e isso ele proporcionou construindo, de fato, os planos intermediários, as colônias, os albergues etc.

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