Estudo de caso: a fuga e a ilusão de liberdade.

Débora é uma mulher determinada, chegou à Psicoterapia Reencarnacionista já movida por uma busca anterior pelo autoconhecimento e por uma compreensão mais holística da vida. Apesar de ter sido por boa parte da vida católica, em algum momento viu-se comovida e envolvida pelas abordagens espiritualistas e passou a ver sentido em várias maneiras de enxergar as existências. Mas mesmo engajada neste processo, havia algumas coisas que ela gostaria de compreender em si mesma.
Ela trouxe a queixa de que não consegue levar seus relacionamentos amorosos adiante, como se houvesse algo que a bloqueasse. Tudo começa bem, mas com o tempo vai se complicando. Ela tem um desejo grande de encontrar alguém, constituir sua própria família, mas não compreende por que está tendo esse tipo de dificuldade. Sabendo da existência de vidas passadas, pensou que pudesse encontrar alguma explicação visitando sua história transcendental. 
Débora traz, também, sobre sua história familiar: foi criada pelos pais, na companhia de uma irmã. Seu pai foi um pouco ausente durante sua vida e, quando Débora tinha 12 anos, ele foi diagnosticado com Transtorno Bipolar. A mãe de Débora sempre foi uma pessoa controladora e dominadora, o que a fez se sentir sufocada e presa. Em alguns momentos, quando manifestava seus sentimentos ou pensamentos em relação a certas coisas da vida, sentia-se criticada e julgada pela mãe, que falava sobre o assunto como se a culpasse por estar passando por aquilo. Em alguns momentos, pelo jeitão controlador, até mesmo tomou as rédeas da situação e tentou resolver por Débora, o que a deixava bastante aflita e indignada. Débora sentiu-se, por bastante tempo, tolhida, cerceada e sem nenhuma vontade de manifestar o que sentia ou pensava, para evitar críticas de sua mãe. Sua falta de liberdade a fez desejar alcançar sua independência e ir viver sua autonomia, que se concretizou pouco mais de um ano atrás, quando resolveu sair de casa. 
Nestas duas vidas acessadas em regressões realizadas em dias diferentes, Débora conseguiu ter acesso a traços de sua Personalidade Congênita que estão muito presentes em seu momento atual. Conseguiu, também, ter acesso a possíveis raciocínios que surgiram a partir das vivências que teve. Vamos mergulhar?


Regressão 1
Está chovendo, eu vejo um cavalo, duas pessoas montando a cavalo. Eu estou chorando. Sentindo vontade de chorar... Não sei, parece que os dois estavam brigando, ou alguma coisa assim... Tem criança, não sei se são meus filhos. Um tem uma arma e dá um tiro no outro. E eu estou desesperada. Essa pessoa cai do cavalo e eu vou lá correndo, tentar acudir. Estou desesperada. São dois homens a cavalo, um deu um tiro no outro. Um era meu pai. Meu pai deu um tiro, não sei se era meu marido, namorado... Eu estou correndo no mato, na floresta, não sei. Estou com as crianças. Eu caio. Estou me sentindo melhor agora. Só estou me vendo correndo... Estou fugindo, meu pai está atrás de mim. Mas eu não quero que ele me ache. Eu chego numa vila, em algum lugar. Tem carro passando... Estou suja. Não estou me sentindo bem, estou meio tonta. Eu atravesso uma rua, não estou bem não, estou muito tonta. Não me vejo mais com as crianças, não sei onde é que elas estão. Estou sentindo como se estivesse levitando, parece até que a cadeira tá mexendo. Só estou sentindo isso, parece que a cadeira está mexendo.
Estou sentada comendo. Estou me sentindo melhor agora. É uma mulher que me dá abrigo. A tontura passou, a poltrona não mexe mais, estou bem melhor. Eu estou triste, estou só... Não tem ninguém por mim. Meu pai está querendo me matar. Meu pai não pode me achar. Tá de noite, vejo a luz de uma lanterna. Acho que estou no mato. Meu pai, uns capangas dele, tentando me pegar...Eles me carregam, até uma cela, sei lá, um quarto. Eu estou chorando muito, estou muito magra, pedindo pra Deus me levar embora. Todos os que eram por mim já se foram... Não tenho mais ninguém. Só peço a Deus para me tirar desse sofrimento. Estou em condições desumanas. Os capangas jogam comida para mim por uma janelinha e ficam rindo do lado de fora. Meu pai entra na cela. Ele grita muito comigo. Me faz me sentir culpada. Ele atira em mim. Eu estou sangrando, mas estou viva. Os capangas vêm para fazer um curativo, alguma coisa... Parece que estou saltando pela janela, ou alguma coisa assim. Estou correndo, imunda, maltrapilha. Os meus filhos vêm em direção a mim me abraçar. Quando ele descobre que eu fugi, ele fica louco. Os capangas a cavalo correm atrás de mim. Eu insisto em continuar fugindo. As crianças estão comigo, estão correndo também. Consigo ouvir os cavalos chegando perto. Um dos capangas atira em mim e eu fico no espaço. Eu fico. Estou no chão. Estou sozinha. Não tem ninguém que me ajude. Começa a chover, estou lá deitada sem me mexer. Não passa ninguém. Mas eu estou bem porque Deus vai atender o meu pedido.
Vem umas pessoas, que me colocam dentro de um carro. Me colocam em uma cama. Cuidam de mim. Cuidam dos ferimentos... Uma mulher senta ao meu lado, fala comigo, cuida de mim e me dá ânimo. Estou morrendo de medo do meu pai. Se ele descobrir que eu estou viva, ele vai querer me matar. Eu fujo da casa dessa senhora, quando estou melhor, porque estou morrendo de medo do meu pai descobrir. Esbarro em um homem que não conheço. Abraço ele e começo a chorar. Saio de mãos dadas com ele. Ele me abriga também. A gente está em uma mesa conversando, parece que eu conheço ele. Esse homem é irmão do meu marido. Pergunto cadê as crianças, ele diz que estão com o meu pai. Ele vai pegar as crianças, mas estou com medo de ficar só. Ele vai atrás das crianças e eu fico só. 
Meu cunhado chega com as crianças. Não posso ficar ali muito tempo, porque estou com medo do meu pai. Eu saio da casa, começo a andar, sem rumo... Escuto um tiro, olho para trás e vejo que meu pai me encontrou. Peço compaixão. Subo no cavalo e vou com ele. A minha única alternativa é aceitar o destino. Vou pra cela, naquele frio... Meu pai quer que eu case com alguém. Ninguém me diz quem é. Eu aceito. Choro muito... Mas é isso ou morrer. Eu estou pronta para casar. Mas eu não aceito. Prefiro morrer. Digo pro meu pai que ele pode me matar. Mas eu não quero morrer. Casamento pronto  e eu não vou. Não sei nem com quem vou casar. Eu consigo dar um tiro no meu pai, eu mato o meu pai. Mas eu não estou livre. Eu estou na mesma cela. Estou louca, estou doida... Eu me mato. Tiro na cabeça. Ainda assim não estou bem... Não estou vendo nada. A cabeça está doendo. Eu estou vendo luz... Estava no escuro, estou vendo luz... Eu vejo luz. Não estou mais na Terra. Estou pertinho das nuvens. Estou bem melhor, me sentindo grande. Vejo tudo do alto. Mas não me interessa mais. Vejo luz forte, intensa, luz branca. Vida, muita vida, leveza, Sol, alegria. Passou...Pessoas felizes, dançando.. Luz, felicidade, amor...Estou só observando, observando...
Encontro algumas pessoas. Estou caminhando com elas. Abraçada com elas. Estou feliz. O que passou não interessa mais. 
Estou feliz, estou aprendendo. Gosto de todo mundo que está ali. Gosto de todo mundo. Eu estou desenhando. As pessoas são muito acolhedoras, fazem eu me sentir muito bem. Muito amor  nessas pessoas, muita paz... Estou em paz, estou me sentindo bem. Eu pertenço a esse lugar. Não tem mais nada... Sem dor, sem medo, sem tristeza, sem loucura... Agora eu recebo as pessoas...

Regressão 2
Estou olhando pra cima e alguém joga uma criança pra mim. Estou agoniada, aflita. Estou correndo, molhada, não estou com a criança. Parece que estou fugindo de alguém. Parece uma perseguição de novo. Eu caio, alguém me levanta, dou um abraço nessa pessoa. Ele me pergunta do que eu estou fugindo. Eu monto no cavalo com esse homem. Parece que eu não estava fugindo, que era brincadeira. Eu chego na minha casa, algumas crianças vêm me receber...Estou com uma dessas crianças no colo, a gente está vendo o pôr-do-sol. Estou chorando, parece que essa criança faleceu... Eu digo que ele pode ir em paz, mas estou chorando muito (ela havia matado a criança).
Eu estou sozinha, vendo o pôr-do-sol. Parece que eu fico presa. O homem, acho que meu marido, vai me visitar e me pergunta por que eu fiz isso... Eu não queria estar ali, eu não queria ter feito isso... Mas eu precisei. Parece que estou dentro do hospital, estou andando, mas vejo médicos, enfermeiros... Me parece que é um manicômio. Eu chamo pelo meu filho. Parece que eu estou louca. Eu volto pra casa, mas nada é como antes. Seu marido não é mais o mesmo. As crianças não me tratam bem, sentem falta do irmão...
Eu preciso sair dali, não consigo ficar lá... As pessoas me reprovam, pelo que eu fiz. Mas eu fiz por amor. Estou sofrendo ameaças. Ninguém entende. Eu quero paz, liberdade, só isso. Eu tive os meus motivos. Eu não posso ser mãe, não consigo ser mãe. Um pouco de liberdade faz bem a qualquer ser humano. 
Eu fui expulsa de casa, estou olhando o pôr-do-sol, sem ter para onde ir... Estou caminhando sem rumo. Estou mendigando. Mas eu estou bem, ninguém me entende mesmo... Melhor morar só, do que morar com gente que me rejeita. Eu não tenho paciência para aturar nada disso... Minha filha passa por mim e me joga uma esmola. Ela nem me reconhece. 
Alguém bem vestido me resgata. Não sei quem é ele, mas ele bate em mim, me critica... Eu peço misericórdia desse homem, estou muito arrependida, mas eu não sei como reparar o erro. Ele aceita o meu perdão e vai cuidar dos meus ferimentos...Não tenho cara de ver meus filhos, não naquela situação. A ideia de ficar frente a frente com meus filhos me desespera. Eu só quero pedir perdão a eles pelo que eu fiz. Eu fiz o que fiz pensando só em mim. O filho era especial (tinha necessidades especiais), eu não queria ter que cuidar dele a vida toda... Eu não sei como reparar meu erro...
Eu não sei se sou capaz de ser mãe de novo. Meus filhos já se esqueceram de mim. Não há mais nada que eu possa fazer. Eu não quero mais ver meus filhos, volto pra rua... Eu não sei o que me deu naquele dia. Perdi tudo. Não tenho mais como voltar atrás.
Eu tento voltar para casa, para pedir perdão. Já tem outra mulher ocupando o meu lugar. Estou perguntando para Deus por que fiz isso, não devia ter feito isso. Eu choro feito criança, queria voltar atrás...Perguntando se tem como reparar o mal que eu fiz. 
Nem tudo está perdido, tem alguém que quer me ajudar. Vai me dar abrigo. Tenho que me arrumar, trabalhar, seguir a vida... Deu um sopro maior de esperança. Eu quero me reerguer. Eu peço ajuda, estudo, trabalho. Deus está me dando forças. O amor pode curar. Eu faço tudo o que for necessário para ter a minha vida de novo, eu quero paz... Com a ajuda desse homem eu consigo me reerguer. Eu me caso de novo. Estou feliz mas triste por não conseguir falar com os meus filhos, eles não me perdoam. Eu estou feliz, mas eu queria o perdão deles. Eu não quero que eles vivam a vida toda com mágoa de mim. Eu não quero morrer sem o perdão deles.
Eu os procuro, mas eles se recusam a falar comigo. Eu desisto de procurá-los. Já consegui me perdoar. Consigo brincar com crianças, estou levando uma vida bem diferente. A raiva e o ressentimento não povoam mais a minha alma. Consigo levar uma vida normal, as pessoas não me reprovam mais. Mas eu ainda queria poder falar com os meus filhos...
Eu já estou mais velha, olhando o pôr-do-sol, sinto que Deus me chama. Deus foi tão bom comigo, mas eu não queria ir sem o perdão dos meus filhos. Deus me chama. Eu tenho que ir...Eu já me perdoei, então eu posso ir... Não estou sentindo nada... As pernas estão fracas...
Eu saio da carne e vou pros braços do Pai. Muita luz, muita paz, muita alegria. Estou me sentindo muito melhor. As mágoas do passado se foram. Pessoas muito felizes, gente brincando de ciranda, muito verde! Bom!
Eu estou bem! Fiz o que podia... Não tenho tristeza mais, rancores... Meu filho estava lá e ele veio me dar um abraço. Nada mais importa. Todo mundo que está ali me entende, entende meu arrependimento. Só paz, só luz, sorrisos, alegria, fé, esperança...O perdão dos outros não interessa. Meu filho estava ali comigo. Não tenho mais medo... Só vejo pessoas felizes, lugar de paz... Amor. Alguém me disse que estou no caminho certo! Me sinto bem, me sinto aliviada. Só paz.. Vitória...


Na primeira regressão, aquela persona viu seu próprio pai matar seu marido. Dali em diante, houve um longo tempo de fugas, de solidão, de medo... A moça não podia se deixar alcançar pelo pai, pois morreria. O pouco que se aproximou de pessoas que tentavam lhe ajudar, não a impediu de novamente fugir. Quando se rende, é obrigada a casar com alguém que não sabe quem é. Prefere morrer a casar com esta pessoa. Desiste. Perde a cabeça e mata seu pai e depois desiste da própria vida. Na segunda regressão, aquela persona se via com sua liberdade cerceada ao ter que cuidar de um filho com necessidades especiais. Ao matá-lo para se sentir mais livre e menos aflita, acabou colhendo algumas consequências não muito agradáveis. Rejeitada pela família, precisou seguir a vida na solidão, encarando a si mesma e a seus arrependimentos. Preferia viver sozinha e na rua a viver com pessoas que a rejeitavam... Mesmo recebendo algumas ajudas, acabava voltando à vida de antes, sempre pensando em precisar do perdão de sua família. Ao conseguir retomar a vida, com o apoio de um novo companheiro, conseguiu se perdoar, conseguiu se reerguer, mas sentia-se aprisionada na falta de perdão por parte de seus filhos. 
Numa primeira análise, levantamos a hipótese de o fato de ter vivido uma história tão amedrontadora e perturbadora com o próprio pai a fez se sintonizar com a sensação e com o raciocínio de que era necessário fugir, para evitar a própria morte. Quando amou um homem, foi tragicamente afastada dele por seu próprio pai e levou uma vida fugindo por medo de ser alcançada. Será que a dificuldade atual de Débora em se relacionar amorosamente com as pessoas envolve um medo inconsciente que a faz "fugir" dessas situações? Lembramos de uma frase falada pela própria Débora em uma sessão de psicoterapia realizada antes de sua primeira regressão: "prefiro ficar só, a perder a minha liberdade". Frase falada não somente na primeira vida acessada, mas na segunda. Analisando a segunda vida, em uma psicoterapia subsequente, percebemos que há, de fato, uma tendência a buscar a própria liberdade. O que ocorreu na primeira vida acessada, na segunda e continua ocorrendo atualmente na vida de Débora. Atualmente, vivendo uma situação de controle e dominação por parte da mãe, essa tendência foi aflorada. Em vários momentos sentiu-se presa, desejou poder fugir, ter sua própria vida. Ao conseguir ter a própria vida, no entanto, percebeu-se em uma dualidade de sentimentos: ao mesmo tempo que que sabe que precisa ter a sua autonomia, sentia-se ainda presa à família, por laços não rompidos completamente, por sentir que os estaria abandonando, por sentir que os perderia. Hoje Débora compreende que provavelmente se boicotou em seus relacionamentos amorosos por um misto de coisas. Por um lado, existe um medo de se envolver, talvez por perder a própria vida e por perder a própria liberdade. Por outro, sente que precisaria romper com o vínculo que ainda possui com a família, o que a faz associar a um abandono, a uma perda. Essa questão da liberdade e da autonomia ficou, portanto, muito explícita por seus Mentores Espirituais. Em especial na segunda vida, Débora pôde perceber que, em prol de sua própria autonomia, retirou a vida do próprio filho, conseguiu atender à tendência que ainda carrega em sua Personalidade Congênita de buscar a própria liberdade. No entanto, viu-se presa pelo resto daquela vida à necessidade de perdão de seus filhos, trazendo uma dualidade de sentimentos. Precisava do perdão de seus filhos, para sentir-se plenamente livre. Débora fez um paralelo entre o perdão daquela vida e o vínculo que ainda possui com sua família e entendeu que, atualmente, talvez fosse necessário se libertar desse vínculo, que não necessariamente é uma prisão, nem necessariamente é um abandono, para conseguir seguir sua vida e viver seus relacionamentos amorosos com plenitude. Também percebeu que, ao se relacionar amorosamente com outras pessoas, naturalmente enfrentará momentos que a colocarão de frente com sua necessidade e tendência a buscar a própria liberdade, mas os relacionamentos envolvem também abnegação, compreensão e autoconhecimento. 
Com as duas regressões acessadas, houve o desligamento dessas sintonias. Houve a oportunidade de levantar questionamentos que envolvem sua situação atual e todas as situações já vividas na vida atual, necessárias para entrar em contato com suas próprias tendências, suas próprias necessidades de reforma. Por isso, Débora pôde se sentir um pouco mais aliviada em relação a esses sentimentos. Mas será no dia a dia, ressignificando raciocínios, escolhendo caminhos diferentes, percebendo-se cada vez com mais consciência, que ela será capaz de vencer os auto-boicotes e vivenciar, finalmente, relações pessoais com mais profundidade, sem medo, sem prisões e sem fugas.
 

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