Estudo de caso: a culpa inconsciente e o desejo incessante de se redimir.
Paula é uma jovem adulta, nascida em outro estado brasileiro, residindo em Brasília há pouco tempo. É militar, trabalha em uma área bastante importante dentro do exército. Mas tem se sentido extremamente frustrada com o trabalho, pois está sob o domínio de uma chefia autoritária, exigente, controladora e ansiosa, que a faz se cobrar ainda mais por um desempenho exemplar. Ela se diz uma pessoa perfeccionista e exigente, com ela e com os outros, tem recebido uma gigante carga de trabalho, que a faz se sentir obrigada a executar, mesmo sabendo que outros colegas não estão recebendo a mesma carga. Ela se vê em uma situação complicada, pois não sente que tem abertura para ser assertiva, para colocar limites, para se posicionar. A estrutura do exército a angustia bastante. Apesar de ter passado boa parte da vida neste contexto, pois o pai também é militar, hoje, estando lá dentro como profissional, sente que não é um sistema que a agrada muito. Por isso, tem se cobrado muito para passar em outro concurso e poder mudar de vida.
Paula foi católica boa parte de sua vida, mas recentemente tem aberto seus pensamentos para o espiritismo, o que a fez buscar a Psicoterapia Reencarnacionista, a fim de encontrar algumas respostas¹. Ela se diz uma pessoa exigente, que frequentemente julga as pessoas por suas atitudes mas, principalmente, julga a si mesma por coisas que pode ter feito ou pode ter deixado de fazer. Percebe que frequentemente está se disponibilizando para auxiliar todo mundo, como se quisesse abraçar o mundo, mas depois sente que não foi feliz fazendo isso e não sabe por que continua fazendo. Paula é uma pessoa educada, polida, com certo jeitinho reservado, desde o início demonstrou querer fazer tudo corretamente, tem medo de incomodar ou decepcionar as pessoas. Com a possibilidade de acessar o passado, sentiu-se um pouco ansiosa, com medo de poder ver que cometeu erros no passado.
Vamos mergulhar?
"Sinto como se tivesse uma luz em cima de mim, na minha cabeça. To vendo uma praia, não sai da minha cabeça desde que começou. Duas pessoas chamam minha atenção: uma moça sentada e um rapaz em pé. Tem outras pessoas em volta, mas só eles me chamam atenção.
Tenho a sensação de que irá acontecer algo ruim com a moça, tenho essa sensação... Como se ela fosse ser assassinada. Mas não sei se é coisa que a minha mente está criando, mas vem uma sensação ruim e dá tontura e enjoo de ficar pensando. Parece que está tudo girando, dá até um enjoo forte. É como se o rapaz estivesse matando a moça mesmo, mas não consigo ver além disso, quando tento pensar aumenta o enjoo.
Essa sensação... De que ela descobre que morreu. Essa sensação que eu tenho. E como ela tá num lugar vazio, é como se visse outros espíritos. O enjoo já passou. Sensação de que tá tranquilo, mas eu sinto muita pressão no olho e dormência no corpo.
Sensação de que ela encontra alguém e abraça, mas não consigo ver o rosto da pessoa, não consigo dizer quem é. Ela fica abraçada com umas pessoas, tudo preto, como se fossem só sombras, e é como se viesse uma luz e levasse eles. Uma luz reconfortante, é essa a sensação...
Parece que eles somem, que a luz veio e vai levando eles.
Vem uma imagem de um homem, muito tempo atrás, muito mesmo, como se tivesse na era medieval num bar antigo com outras pessoas.
(A terapeuta pergunta sobre a moça de antes) Ela foi... Sensação que foi embora tranquila, mas quando tento pensar depois disso não consigo, como se tivesse bloqueado. Eu tento pensar na moça, não consigo mais... Volta aquele homem...
Tenho a sensação de que é uma pessoa violenta. A primeira coisa que eu vejo é ele saindo e indo bater e abusar de uma mulher, o que é horrível, porque acho que nem quero pensar nisso aí.
Tenho a sensação de que aquela primeira moça está vendo aquele homem de cima. Me veio ela à mente assim... Não sei se a sensação de algo que ela parece que está vendo e dá uma sensação do meu braço apertado. Não sei se essa última imagem é para mostrar o que ela viu... Como se tivesse passando um filme para ela, as pessoas que estão com ela eu não consigo ver. Ela fica vendo essa imagem e parece que vê outras também². Ela sente angústia, está meio angustiada... Tenho sensação de que é uma vida que ela tivesse vendo dela, passada, que ela era esse cara e a distância entre ela e ele, em tempo, é muito grande... Parece mais gente em torno dela. Ela está angustiada, triste, parece que chorando. Parece que tentam acalmar, confortar, para ela se redimir, coisa assim... Essa sensação que eu tenho... Parece que é como se ela olhasse para outra tela e vem outra imagem, outra época, outra cultura, índia ou algo assim. Mas vejo duas meninas sentadas, como se a moça tivesse vendo isso, revivendo coisas que ela passou.
Elas sentadas, elas levantam e correm, mas não consigo ver mais que isso... O que vejo é ela vendo, como que do alto vendo isso. Dá a impressão de que a menina não é uma menina pobre, parece ser bem de vida, pela roupa, ela vê isso... Como se ela ficasse olhando para várias telas, de cima, e fosse vendo várias coisas, não forma uma imagem muito clara.
A gente sente que tem certa tensão, embora tenha pessoas para confortar, não consigo ver, não é nítido, mas sei que tem alguém perto. Chegam perto dela para tentar confortar, eu sinto a angústia dela, é essa a sensação. Parece que é como se ela pedisse para ter mais uma chance, para consertar o erro, coisas do passado. Vai trazendo um certo alívio para a situação. É como se abrisse uma porta com luz e fosse seguir nessa direção e vai, como se tentando mais uma chance... A sensação é que ela foi, mas não traz uma sensação de tranquilidade. Mas ela foi... É o que eu sinto. Eu sinto como se eu tivesse ficado com a angústia dela, ela ficou angustiada, mas foi... Sinto essa angústia ainda...³
Eu penso assim, como se eu tivesse com meu anjo da guarda mesmo, ela estivesse comigo. Acho que tenho a sensação de que talvez fui essas pessoas, fui violenta, esse tipo de coisa. Como se eu tivesse uma nova chance, para recomeçar... Tenho uma sensação de desconforto e agora de aceitação. Tenho certeza de que meu anjo da guarda está aqui comigo. Tenho a sensação de como se eu tivesse...Como se antes eu estivesse flutuando e agora eu "voltei". Como se antes eu estivesse mergulhada e agora não. Sensação que tenho é conforto, mas meu sexto sentido diz que a partir de agora eu não consigo ir além...
Me sinto um pouco melhor já, como se tivesse a sensação de compreensão, aceitação...
Talvez, não sei, por que eu quero ajudar todo mundo? Mas às vezes para me redimir, vem a sensação de que quero ajudar todo mundo. Parece que eles quiseram me mostrar isso...
Me vem à mente assim... Como se minha missão fosse me redimir, mas mesmo assim como se eu não conseguisse encontrar a paz. Parece que externamente eu pareço tranquila, mas internamente ainda tem violência dentro de mim..."
Nesta regressão, os mentores de Paula atuaram praticamente sozinhos. Apesar de ter se envolvido com o catolicismo por grande parte de sua vida, Paula teve grande facilidade em regredir e trouxe histórias coerentes e concisas. Seus mentores lhe mostraram uma vida em que fora assassinada e, ao chegar aos Planos Espirituais, teve a consciência de sua história espiritual transcendente, foi recuperando sua consciência espiritual e compreendendo por que havia acabado de passar por aquela vida. Seus mentores lhe mostraram uma vida em que foi violenta, como homem, muitos anos antes desta vida que acabara de acessar. Com isso, eles lhe mostraram sobre algumas das leis que regem a reencarnação, a Lei do Retorno, a Lei da Ação e Reação... Era necessário, talvez, que ela vivesse aquele assassinato como vítima, para redimir-se dos atos daquela outra vida. Mas aquele espírito, ao entrar em contato com esse conhecimento, sentiu-se momentaneamente angustiado, desejando poder se redimir, desejando ter outra chance.
Hoje, percebe-se na Personalidade Congênita de Paula, que não há mais uma necessidade ou uma vontade de cometer atitudes violentas como as praticadas por aquele homem no passado. Pelo contrário, parece que há uma tendência a se sentir inconscientemente culpada por isso, a ponto de submeter-se a certas situações, aceitar certas condições ou querer abraçar o mundo, para redimir-se de seus erros, como se sentisse que é uma eterna devedora, que tem o dever de aceitar certas situações, o que a coloca com dificuldades de ser assertiva. O medo de errar, o medo de acessar erros do passado, também traz essa sensação de que talvez ela carregue consigo, inconscientemente, ainda muito sentimento de culpa, angústia e vontade de se redimir. Mas talvez a necessidade de se redimir já tenha ficado para trás, talvez, ao mostrarem a ela uma vida em que pôde, por meio da Lei do Retorno, viver uma situação que a colocou no "papel de vítima", eles já tenham mostrado a ela que não é necessário carregar tanta culpa e que hoje, provavelmente, um de seus pilares de Reforma Íntima é não se sentir culpada, não ter medo de errar, ser mais livre, mais relaxada, sem receios e angústias.
Paula conseguiu repensar bastante sobre sua situação atual dentro do trabalho, tem conseguido ser mais assertiva e tem conseguido confiar mais nela mesma, com menos medo de errar ou menos autocobrança. Mas essa foi apenas a primeira de várias regressões que lhe foram oportunizadas...
¹Apesar de a Psicoterapia Reencarnacionista abordar a vida pelo viés da reencarnação, ela não possui nenhuma conexão com doutrinas ou religiões espíritas/ espiritualistas. Mas obviamente há uma enorme quantidade de pessoas que estão inseridas no contexto espiritualista buscando esse tipo de terapia, mas não é necessário acreditar ou seguir religiões espíritas ou espiritualistas para passar por esta terapia, nem para fazer regressões de memória, como ficou bem evidenciado neste estudo de caso.
²Até o momento desta primeira regressão, Paula não sabia que ao chegarmos nos Planos Espirituais temos acesso às vidas anteriores por meio de um "telão". Maneira que os espíritos que nos auxiliam têm de nos mostrar nossa história espiritual e nos auxiliarem a compreendermos a vida que passou e o que verdadeiramente somos. Mas nesta regressão, seus mentores lhe oportunizaram essa visão, de uma maneira bastante clara e isso foi muito esclarecedor.
³ Por vezes, quando chegamos aos Planos Espirituais em uma regressão, mesmo tentando chegar ao Ponto ótimo, ou seja, ao melhor que aquele espírito chegou no período intervidas, o espírito ainda conserva vaga sensação de angústia, culpa ou medo... Apesar de a situação ideal ser a de extremo bem-estar e esperança, às vezes os espíritos parecem se encaminhar para uma nova chance ainda carregando alguns sentimentos... Mas ainda assim, bem melhores do que quando acabaram de chegar aos Planos Espirituais. Nessas situações, temos percebido que os sentimentos sentidos nos Planos Espirituais são manifestados com muita força quando encarnados. Mesmo assim, os mentores, ao final da regressão, parecem fornecer às pessoas algum tipo de passe para que voltem mais aliviados e com mais consciência do que vieram fazer dessa vez. Isso ficou muito claro pelo relato de Paula que estava visivelmente surpresa de se sentir na companhia de seu anjo da guarda.
Ana incrível este relato, parabéns pela clareza...tenho certeza que estas a cumprir esta missão com delicadeza e amor...grata mais uma vez....
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