Estudo de caso: o soldado e a nova chance frente à morte
Antônio tem 32 anos, desde pequeno sabia que precisava fazer medicina para ter reconhecimento e poder ajudar as pessoas. Passou em uma faculdade renomada, cursou medicina e tinha o desejo de se tornar médico legista. Tentou alguns concursos, mas não passou. Passou em um outro que não tinha muito a ver com a sua área, mas resolveu assumir mesmo assim. No início da carreira, foi chamado para a Secretaria de Saúde, na qual está até hoje. Ele se sente muito feliz com a atividade que exerce, mas acabou passando por momentos de escolha bastante difíceis. No meio do caminho, foi aprovado também em um concurso super almejado em sua cidade, com um salário altíssimo, para exercer o cargo de médico. A carga horária era interessante, ele conseguia combinar os dois trabalhos. Mas foi numa atitude inédita de se especializar em cuidados paliativos que a sua vida começou a tomar um caminho diferente.
Ao voltar do exterior, recebeu propostas para assumir essa área. Ali estava a sua primeira difícil decisão: permanecer naquele cargo confortável, que trazia muito conforto material e uma carga horária leve, ou assumir um trabalho de enorme responsabilidade, que lhe exigiria muito esforço, muitas horas de trabalho e um salário não tão bom quanto o outro. Ele escolheu pelos cuidados paliativos e se envolve com isso desde então. Ama o seu trabalho, apesar de trabalhar muitas horas por semana. Mas sente que é necessário fazer mais, cada vez mais. Tem vontade de abraçar o mundo, como se carregasse um sentimento de culpa inconsciente, uma necessidade de fazer mais pela humanidade. Com isso, o desejo de fazer residência acabou ficando de lado. Por mais de uma vez ele desejou se especializar, mas os eventos da vida afastaram esse desejo e isso gerou angústia. Por um lado, parece que o desejo de fazer residência seria uma oportunidade de poder fazer mais, ajudar mais. Por outro, parece um desejo de ter mais um título, mais um reconhecimento.
Na esfera pessoal Antônio relata que sempre teve um relacionamento afetivamente afastado com sua família. Ele não consegue entender muito bem os motivos para isso, mas é como se nunca tivesse conseguido nutrir um afeto tão grande. Especialmente por seu pai, com quem teve uma relação delicada ao longo de toda a sua vida. Sentia medo, raiva, sentia-se extremamente cobrado pela rigidez do pai e estava frequentemente acessando um sentimento de receio de ser "delatado" por ele, de que ele dissesse aos professores da escola ou a outras pessoas que ele não era uma boa pessoa, ou não era um bom aluno.
Antônio também atua como médium e como tal possui uma grande sensibilidade. Ele relata que graças à sua Doutrina é possível lidar com os cuidados paliativos com mais esperança, pois ele sabe que seu trabalho é o de auxiliar aqueles que estão no fim da vida a terem mais dignidade. Ele sabe que há "o lado de lá" e isso o auxilia muito em sua jornada. O que ele não esperava era encontrar tantas respostas de uma só vez em sua primeira regressão. Vamos mergulhar?
Em sua primeira regressão, Antônio visivelmente acessava um cenário emocionante. Antes mesmo de falar qualquer palavra, era possível verificar em sua feição uma emoção diferente. Ele relata que via uma época de guerra, talvez 1912. Ele não queria partir, mas tinha que ir. Deixou família e filhos e foi servir. Eram muitos feridos e ele nunca teve a intenção de fazer mal, mas dar um fim ao sofrimento deles. Havia muitas pessoas mutiladas, gritos, dores, gemidos, mas ele estava fazendo o que achava que era certo por eles. Muitos o seguravam e imploravam, mas ele não fazia por maldade. Ele sentia que estava fazendo o seu dever.
Alguém descobriu o que ele estava fazendo e iria denunciá-lo a um superior. Ele não podia deixar isso acontecer, pois não iam entender. Esse alguém ameaçou contar. Mas ele não podia permitir. Ele segurou a arma e no momento da briga, da fúria, colocou um fim e atirou. Ele relata que eles não tiraram suas patentes, que tudo o que ele tem foi ele quem conquistou. Ele sentia uma vergonha enorme, eles nunca iriam entender. Então ele decide sair e percorrer as trincheiras, ele sabe o que fez, então é uma questão de tempo ser encontrado e perseguido.
Ele ouve um barulho muito forte, foi uma bomba. Ele cai desacordado e quase que imediatamente consegue visualizar um monte de gente gritando e o xingando de assassino. Ele sente que mereceu passar por tudo aquilo. Acha que mereceu e foi até pouco. Ele já estava desencarnado e estava sendo perturbado por vários espíritos que possivelmente foram suas vítimas. Um tempo se passa e ele pede perdão, bate um arrependimento, uma compreensão de que não deveria ter feito aquilo. Com o tempo ele conseguiu ser atendido e resgatado. Ele entende que foi errado o que fez e pede mais uma chance para tentar. Ele entende que o local para onde foi depois de desencarnar foi uma consequência de seus atos, mas pede uma chance para voltar.
Alguém descobriu o que ele estava fazendo e iria denunciá-lo a um superior. Ele não podia deixar isso acontecer, pois não iam entender. Esse alguém ameaçou contar. Mas ele não podia permitir. Ele segurou a arma e no momento da briga, da fúria, colocou um fim e atirou. Ele relata que eles não tiraram suas patentes, que tudo o que ele tem foi ele quem conquistou. Ele sentia uma vergonha enorme, eles nunca iriam entender. Então ele decide sair e percorrer as trincheiras, ele sabe o que fez, então é uma questão de tempo ser encontrado e perseguido.
Ele ouve um barulho muito forte, foi uma bomba. Ele cai desacordado e quase que imediatamente consegue visualizar um monte de gente gritando e o xingando de assassino. Ele sente que mereceu passar por tudo aquilo. Acha que mereceu e foi até pouco. Ele já estava desencarnado e estava sendo perturbado por vários espíritos que possivelmente foram suas vítimas. Um tempo se passa e ele pede perdão, bate um arrependimento, uma compreensão de que não deveria ter feito aquilo. Com o tempo ele conseguiu ser atendido e resgatado. Ele entende que foi errado o que fez e pede mais uma chance para tentar. Ele entende que o local para onde foi depois de desencarnar foi uma consequência de seus atos, mas pede uma chance para voltar.
Ele se conscientiza de que lhe faltou religião, pois era muito ligado à matéria, à ciência. Achava que dar fim à vida dos companheiros de guerra era a coisa certa, pois achava que tudo terminaria ali mesmo. Ele pede novamente mais uma chance e planeja não deixar a matéria o cegar novamente. Ele pede para ter uma religião forte, que o conduza e não deixe perder o caminho. Ele agradece a Deus pela oportunidade concedida e pede auxílio, pede forças para a nova jornada. Os preparativos foram iniciados, tão logo finalizem ele poderá partir e ir para o "mundo em transição". Aquele colega que foi alvejado irá voltar primeiro e o receberá quando for sua vez. "Que Deus ampare o meu propósito. Que Deus ampare..."
Ele relata que tem carregado muito um peso da culpa, sente medo de falhar, mas acha que dará certo dessa vez. Ele quer adquirir mais confiança. Ele vê seu grande amigo Ricardo junto com ele (seu amigo espiritual, Mentor Espiritual). Vê uma chuva de luzes, sente-se entorpecendo a cada momento. Entra num sono profundo, mas com muitos sonhos. Ele se lembra das caras acusadoras, sente medo, mas tudo é um sonho. Quando desperta já está em outra forma, já está em outra existência, na existência atual.
Quando pequeno chorava muito, sentia muito medo. Via figuras perto dele, figuras "horrendas" que lhe passavam medo. E foi crescendo, desenvolvendo-se. De fato nunca sentiu que tivesse um afeto. Ele diz que tinha um misto de medo e raiva daquele que veio a ser seu pai. Tinha medo de apanhar, de ser delatado, do pai contar para os outros que ele não era uma pessoa boa, um bom aluno. Ele sempre se esforçava, mas sempre tinha medo de ficar para trás. Diz que sempre teve vontade de conquistar as coisas para sair de casa, para ter sua independência, mas nunca conseguiu. Até hoje não conseguiu sair, por mais que tenha os recursos necessários, algo sempre o puxava para lá, para a sua casa. Mas ele sempre se sentiu distante da sua família, nunca conseguiu sentir um afeto por ninguém.
"Tudo vem em seu momento, em sua hora, tudo"
Com essa regressão Antônio conseguiu alcançar várias compreensões. Ao perceber que tinha escolhido estratégias que prejudicaram sua jornada, quando escolheu dar fim à vida dos colegas entendendo que estaria ajudando, escolheu, enquanto espírito, poder ajudar em uma nova encarnação. Sua profissão de médico e, especialmente, atuando em cuidados paliativos tem uma íntima ligação com essa escolha transcendental. Nesta vida ele tem uma chance de auxiliar de uma maneira alternativa as pessoas que estão à beira da morte, dando a elas dignidade e bem-estar. E ele percebe o quão gratificante é ter essa oportunidade.
Ao mesmo tempo, ele percebe que precisa se sentir mais leve em relação à cobrança que se faz frequentemente. Ele sempre acha que está fazendo pouco, que precisa fazer mais. Carrega um sentimento de culpa que até então era inconsciente. Mesmo tendo escolhido um trabalho mais difícil e mais cansativo, mesmo atuando em uma área tão delicada e ainda exercer um trabalho na caridade como médium, ele se sentia no dever de fazer cada vez mais e isso o fazia se sintonizar com sentimentos de angústia e frustração. Essa regressão veio a lhe mostrar que "está tudo certo", que ele está caminhando pela jornada que possivelmente escolheu enquanto espírito e não há a necessidade de se manter no sentimento de culpa e de autocobrança. Ele conseguiu entender por que os cuidados paliativos surgiram em seu caminho e por que a escolha de abandonar aquele outro trabalho foi uma maravilhosa escolha para a sua evolução, apesar de ter abdicado de um salário alto e poucas horas de trabalho.
Ao mesmo tempo, aliviou seu coração em relação à residência. Ele ainda possui o desejo de realizá-la, mas entendeu que tudo tem o seu tempo e que, caso seu desejo de realizar a residência seja fortalecido pela crença de que precisa fazer mais, talvez seja positivo desacelerar e ter paciência, pois já está fazendo bastante. Ele questiona sobre os motivos pelos quais ele sente esse desejo tão grande e essa frustração tão grande. Mas entende que precisa levar a vida de uma maneira mais leve, pois está no caminho certo.
Por fim, ele conseguiu compreender, finalmente, a origem de uma relação tão delicada com seu pai. As sintonias com o passado faziam com que ele repetisse diversos sentimentos em relação a ele e vice versa! O medo, a raiva, o receio de ser "delatado", as inúmeras experiências angustiantes que tiveram juntos. Aquele que iria delatá-lo no passado e foi alvejado por ele, para que não fosse, tinha nascido primeiro, era hoje seu pai e ambos têm muito a aprender um com o outro. Especialmente o perdão e o amor, dentro de uma relação de pai e filho.
Mais uma vez uma pessoa se desliga belissimamente de uma vida com a qual mantinha sintonias. Seus Mentores Espirituais foram bastante generosos ao mostrar uma vida que trazia tantos esclarecimentos sobre seu momento de vida atual. Ali ele pode se recordar de sua verdadeira essência e compreender que tudo o que vive hoje tem um propósito e foi escolhido por ele antes de encarnar. Agora ele se sente mais aliviado por perceber que está no caminho certo e que não é necessário se cobrar tanto. Ele percebe, também, que a chance da reencarnação é uma bênção. Que todos nós erramos em diversas caminhadas, mas com o desejo sincero de se melhorar, temos a chance de retornar e poder fazer diferente. Gratidão!
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