Relações amorosas: o que está acontecendo de errado?



Assumir uma nova jornada na Terra em prol da evolução espiritual frequentemente é motivo de muita felicidade para um espírito, que tem plena consciência de que o melhor ambiente para se vivenciar o que é necessário ao crescimento, é o ambiente em que recebemos como presente um corpo material, características físicas, uma família, um contexto social no qual estamos inseridos. Mas essa escolha não é aleatória. Já pensou como seria diferente se sua vida fosse em outro país, se tivesse nascido filho(a) de outra mãe e outro pai? Se tivesse nascido num gênero diferente do seu? Se hoje tivesse uma idade mais avançada ou menos avançada? Tudo isso faz parte de um planejamento minucioso para uma encarnação cujo principal objetivo é vivenciar aquilo que é necessário para o próprio crescimento. Por vezes não compreendemos, num ar de vítimas, por que tivemos uma vida assim, por que aconteceu isso ou aquilo... Por que temos a obrigação de aceitar tal e tal pessoa em nossas vidas... Quando fazemos essa pergunta, quem está em jogo é a parte limitada de nossa consciência, a parte regida pelo Ego, pela persona e suas ilusões... Difícil é compreender por que estamos aqui quando visualizamos a vida e seus desafios pelo olhar de vítima. "A percepção de que tudo é bom liberta-nos do mal."
E assim, projeto reencarnatório traçado, estamos prontos para mais uma jornada. Reencarnamos naquele corpo projetado para nós, naquela família escolhida por nós, naquele país escolhido por nós... Naquelas condições econômicas e sociais necessitadas por nós. E junto de tudo isso, a perda momentânea de nossa memória e consciência espiritual, para vivermos sinceramente a riqueza de nosso livre arbítrio. Para aprendermos conosco e com os altos e baixos da vida. Naquele neném recém nascido, apesar de um corpo em tenra idade, por vezes até prematuro, está uma Personalidade Congênita¹. Um conjunto de traços, características, padrões de sentimentos e pensamentos que já carregamos conosco em uma história espiritual de séculos, se não milênios. Uma Personalidade Congênita pronta para ser aflorada conforme vamos vivenciando os estímulos que a vida tem a nos oferecer... E um desses primeiros estímulos é a nossa relação social. 
De início, nossas relações se limitam ao contexto familiar. Os anos se passam e vamos expandindo esse contexto. Vamos à escola, conhecemos outras famílias, topamos com vizinhos, pessoas aleatórias. Diversas situações e experiências externas a nós vão aflorando os lados de nossa Personalidade Congênita e vamos tendo a oportunidade de entrar em contato com isso, nos posicionarmos no mundo como um ser encarnado, lidarmos com nossas tendências e padrões. 
Se tudo o que está fora de nós pode se denominar um gatilho, pois ativa superioridades e inferioridades de nossa Personalidade Congênita, podemos fazer uma microanálise das relações amorosas pelas quais passamos. 
Muitos de nós terão a oportunidade de se sentirem atraídos por outras pessoas. E, se tivermos uma facilidade para isso, faremos com que tudo flua e por ventura concretizamos uma relação amorosa. A princípio, são duas personas, dois Egos, tentando se relacionar, tentando se conhecer minimamente. No início é bastante comum que nutramos alguns sentimentos e expectativas bastante ilusórios sobre a outra pessoa. Porque faz parte de nosso processo simbólico interpretar e visualizar o que vivemos pelos nossos próprios crivos. Neste momento a relação tende a trazer experiências maravilhosas, inovadoras, muitas novidades com frequência. Ascende aquela sensação da paixão, a vida se modifica para se adequar a este novo status e o tempo vai passando...
É natural pensar que, se tudo aquilo que é externo a nós é um potencial gatilho para nossas inferioridades, com as relações amorosas isso não poderia ser diferente. Chegamos a uma fase em que as ilusões são confrontadas com a realidade individual de cada um... Vamos adquirindo intimidade, a novidade passa a ser rotina, vamos nos conhecendo com profundidade e então começamos a viver uma relação bastante visceral. Um vira um gatilho para o outro em diversos momentos. E é importante lembrarmos que ao definirmos uma pessoa como gatilho, estamos adotando a visão mais otimista e consciente - a visão do espírito - em relação a isso. Gatilhos são maravilhosas bênçãos em nossas vidas, pois são grandes oportunidades - apesar de por vezes se esconderem em pequenos momentos - de nos confrontarmos conosco e nos reinventarmos a cada dia. Então, um acaba servindo como um gatilho para o outro. Se um tem a tendência ao autoritarismo e o outro também, esse casal pode começar a se esbarrar em uma disputa por dominação. Às vezes um é um pouco controlador, o outro tem uma tendência a ser mais passivo. Às vezes um é mais enérgico, ansioso e de mais atitude e se irrita por que o outro é mais lento, mais tranquilo, mais despreocupado. E então o caos começa a se instalar dentro da relação. Ambos passam a questionar sobre o valor dos sentimentos que até então tinham nutrido. Evidenciam-se os defeitos do outro. Evidencia-se uma infelicidade por estar passando por isso. Geralmente os relacionamentos terminam nesse estágio.
Mas o que a Psicoterapia Reencarnacionista² tem a dizer sobre isso? Ora, não podemos nos esquecer de algumas ideias básicas... Por vezes nos propomos, enquanto espíritos, reencontrar um outro espírito extremamente afim a nós, para que possa ser construída uma história e possam vir determinados frutos... Mas também podemos escolher topar com espíritos não tão afins, para que um possa aprender algo com o outro. Se é uma questão de reencontro ou de resgate, não importa muito. Até porque em matéria de planejamento reencarnatório, mal saberemos sobre todos os detalhes possíveis. Mas independente da natureza desta relação, o que importa pensar é que um serve e servirá de gatilho para o outro. Isso significa que o que incomoda no outro é, nada mais, nada menos, que um gatilho para uma inferioridade sua. E é claro que ter uma inferioridade aflorada em si não é algo agradável de se sentir. Assim, não é que o autoritarismo de João deixe Maria infeliz. É que o autoritarismo de João aflora em Maria o próprio autoritarismo e, na prática, ambos acabam concretizando isso por meio de diversas disputas de dominação. Maria não está infeliz porque João é autoritário. Ela está infeliz, porque sente dentro de si mesma o próprio autoritarismo ser ameaçado. Logo, nesta relação, e em outros diversos modelos, vemos uma projeção da infelicidade na atitude do outro. Deslocamos a causa da nossa infelicidade ao defeito do outro. Mas isso é uma ilusão. 
Uma vez que passamos a compreender que, ao nos relacionarmos com outra pessoa, estaremos vivenciando, de perto, uma grande oportunidade de entrarmos em contato com nossas próprias limitações, passamos a enxergar esta relação com outros olhos. Pois ao invés de deslocarmos a culpa da infelicidade ao defeito do outro, passamos a perceber como estamos implicados neste processo. No fim das contas, dependerá da motivação e amor de cada um para saber se vale a pena permanecer nesta relação. Pois numa vida a dois sempre há uma oportunidade de transformação mútua, de autopercepção, de reforma íntima e evolução espiritual. Mas isso não significa que, por aquela pessoa ser um gatilho nosso, temos a obrigação de estarmos ligados a ela pelo resto de nossas vidas. Até porque se Maria decide se separar de João porque ele é autoritário, mais cedo ou mais tarde, Maria irá se deparar com outras situações ou até mesmo outras relações que a façam entrar em contato com a mesma questão. E isso não acontece porque Maria está fadada a ser infeliz por conta do autoritarismo alheio. Isso acontece porque Maria está falhando em perceber o próprio autoritarismo e, a partir do momento em que perceber isso e transformar isso, o padrão de relações autoritárias vividas irá se transformar...
"Poxa, Ana, então quer dizer que é essa a explicação para o que dizem em relação aos casamentos? Que não é fácil ter vida de casado... E que, então, a pessoa sempre servirá de um gatilho para nós e a infelicidade é inevitável?". Não. Veja bem, não é muito fácil tentarmos definir o que está por trás de todas as relações, porque cada indivíduo isolado é um universo. Imagine dois indivíduos juntos! Mas certamente podemos ter a certeza de uma coisa: em todos os momentos em que manifestamos nosso lado negativo, pelas nossas tendências a sentimentos negativos, a pensamentos negativos, a condutas negativas, há algum gatilho disparando aquilo que existe dentro de nós. Nós não estamos magoados porque a fulana é insensível. O fato da fulana ser insensível está aflorando em nós nossa costumeira tendência à mágoa. Se não percebermos isso, se continuarmos deslocando a culpa de nossa mágoa para outra pessoa - independente dela também ter suas inferioridades - perderemos a oportunidade de percebermos sobre nossa própria Reforma Íntima. "Entendi, Ana. Então quer dizer que se eu me relaciono com uma pessoa insensível, eu preciso suprimir por completo minha mágoa e conviver com ela assim mesmo para que eu evolua espiritualmente?" Também não. Isso cabe a você e somente a você. Essa é a riqueza do livre arbítrio, escolhermos aquilo que achamos que temos que viver. A partir do momento em que houver uma decisão de que se quer sair desta relação porque não há como ter uma pessoa insensível ao lado, essa é uma decisão feita conscientemente, levando em consideração que a mágoa e a tendência a se magoar permanecerá em seu íntimo e, enquanto não for trabalhada, vivenciará outros gatilhos ao longo da vida, em diversos momentos, em diversas experiências e relações. Ninguém está obrigado a vivenciar uma relação a dois porque está querendo evoluir espiritualmente. Mas no momento da desilusão normal a todo casal, vai pesar o amor que existe entre ambos e a vontade de fazer dar certo, ao compreender sobre as inferioridades e limitações de cada um. Vai pesar a compreensão de que um não é o vilão do outro. De que ambos estão implicados em um processo de transformação em que um auxilia o outro. Mas se mesmo com esta compreensão e esta tentativa, você perceber, em seu íntimo, que já não é mais para você, busque a felicidade...
Nós sempre vivenciaremos riquíssimas oportunidades de autoconhecimento. É por isso que, se ficarmos atentos às mais maravilhosas experiências que temos no dia a dia, teremos a capacidade de nos percebermos com mais acurácia e irmos construindo uma encarnação mais prazerosa, mais leve e mais consciente. A relação a dois é apenas mais uma das experiências que vivemos neste grande espetáculo da vida. Nunca podemos nos esquecer que cada um de nós, independente dos papeis que tenhamos escolhido exercer por aqui, estamos em uma caminhada de evolução. Um pode auxiliar o outro e ninguém é melhor do que ninguém. 

Luz, Paz e Amor!


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¹Personalidade Congênita
² Psicoterapia Reencarnacionista

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