Psicopatologias e sofrimento humano, uma visão desafiadora

O que são os seres humanos a não ser "pedaços" de um todo que pulsa em conjunto e depende desse pulsar para ir para frente ou para trás? Há alguém que ainda cogite a possibilidade de que existe progresso humano sem coletividade? Partindo para uma definição de homem e sociedade de uma forma mais holística, pode-se acreditar que cada um contribui para essa "massa" que pensa, comporta-se e interage. E nessas interações há diversas trocas: emocionais, físicas e energéticas. Se nos colocamos numa posição energeticamente baixa e convivemos com situações que têm sintonia com essas energias, qual a probabilidade de nos retirarmos desse campo? Qual a probabilidade de afetarmos aqueles que estão à nossa volta e se deixam entrar em nossa sintonia? Mas por que tantas perguntas complexas?
O ser humano, independente das crenças que definem o início da existência de cada um, comporta, dentro de si, um universo simbólico. Mas esse universo não é imutável, muito menos incapaz de sofrer influências de tudo o que gira em torno dele. Somos um produto de uma interação interna, mas também e principalmente, de uma externa. E nossas interações externas significam trocas com o meio, a natureza, as outras pessoas, as situações que vivenciamos. O que tudo isso significa? Significa que cada um de nós, como uma partícula pessoal desse todo, como seres individuais, possuímos nossas riquezas internas, que nos caracterizam como somos, definem o nosso Eu. No entanto, não somos apenas isso, posicionamo-nos em diversas categorias, nichos, grupos e assim também nos reafirmamos. Mas matematicamente falando, como é possível dissertarmos sobre pessoas idênticas? Qual a probabilidade de encontrarmos, nesse universo combinatório, duas ou mais pessoas exatamente iguais? Eu diria impossível...
A Psiquiatria e a Psicologia, em seus poucos anos de existência, tentaram pesquisar o ser humano e propor explicações para os diversos fenômenos observáveis em diversas culturas. Percebeu-se uma tendência à angústia, que foi definida pela Psicanálise, por exemplo, como uma consequência natural de uma configuração mental neurótica. Se somos neuróticos, somos "normais", e é pelo nosso esforço em reprimirmos nossos desejos primitivos e animalescos, em prol de todas as normas e regras socialmente construídas, que surge um sintoma em comum: a angústia. Saindo um pouco da Psicanálise, sabemos que todo ser humano é passível de sofrimento, das mais diversas naturezas. Sofre-se pelos sonhos inalcançados, pelas perdas, pelas passagens, pelo medo do desconhecido, pelas indecisões, pelos arrependimentos, por tudo aquilo que ameaça, mesmo que momentaneamente, nossa homeostase, nosso equilíbrio interno. Mas sofrimento significa psicopatologia? 
Analisando nossa história, chegaremos a momentos em que o homem passou a segregar da sociedade aqueles que possuíam características e/ou condutas repreensíveis e indesejáveis. Nos nossos antigos asilos era possível encontrar pessoas em sofrimento psíquico grave, portadores de necessidades especiais, ladrões, prostitutas... Um depósito de pessoas que, por algum motivo, eram vistas como negativas para o progresso da sociedade. Talvez as definições de psicopatologia tenham se iniciado aí, quando houve um esforço da ciência emergente em responder acerca dessas "mazelas sociais" tão indesejadas, no intuito de poder controlá-las e preveni-las. Hoje, falar em psicopatologia significa falar de um conjunto de sintomas que foram outrora classificados estatisticamente a fim de se chegar num denominador comum. O que isso significa? Significa que, ao estudar os diversos casos existentes, chegou-se a uma estatística que tentou definir conjuntos de sintomas e reduzir a títulos que até hoje são utilizados pela saúde. Então se fulano tem tais e tais sintomas, ele se enquadra ao que estatisticamente se definiu como Esquizofrenia, e então esse fulano está automaticamente encaixado nessa gaveta e dificilmente sairá dela, devido aos diversos estigmas que esse rótulo possui e aos diversos mitos acerca da imutabilidade do ser humano. 
Falando novamente sobre os infinitos universos simbólicos existentes, representados por cada homem, e levando em consideração o que se define por psicopatologia, pergunta-se: como é possível encaixar pessoas em gavetas, se já sabemos que existem diversas, infinitas e incontáveis realidades e mundos internos? Será possível sermos tão reducionistas a ponto de retirarmos nossa obrigação de compreender cada ser humano como único? Será que estamos fazendo um avanço para o que denominamos Saúde Mental quando fazemos um esforço para nos limitarmos a classificações, conjuntos sintomáticos, mente desligada de corpo e energia, estigmas e mais estigmas?
Vive-se um esforço universal, ao menos na sociedade ocidental, para suprimir os sofrimentos. O homem que sofre é frágil, é improdutivo, é doente, é incapaz. Mas o sofrimento faz parte da vida humana. Talvez seja justamente a "vista grossa" acerca do sofrimento que o torna tão sério quanto o que vemos acontecendo. É um estigma tão grande entrar em sofrimento, que esse processo, que deveria ser natural, passa a ser um estorvo para a própria pessoa, que continua cavando para baixo e sintonizando com essa negatividade. O que isso quer dizer? Quer dizer que, talvez, a nossa visão acerca de sofrimento seja justamente o que está criando diversas patologias. A sociedade está cada vez mais doente, por querer evitar o próprio sofrimento. O homem se coloca como vítima e, quanto arrebatado pelos sofrimentos comuns da vida, normalmente se deixa levar por eles, encaixa-se numa posição de incompetência, entra num verdadeiro desamparo aprendido. O que aconteceria se fizéssemos o percurso oposto? Se recebêssemos de braços abertos os sofrimentos da vida, encarando-os como necessários para o nosso adiantamento e, logo, passageiros para nos levar a um degrau acima? Visualizar o cotidiano com mais otimismo e positividade transforma qualquer realidade de sofrimento em algo que vale à pena viver, com paciência, resiliência, determinação.
O que se está acostumado a fazer, portanto, é tentar reduzir um universo simbólico gigantesco em algumas palavras e rótulos que têm a intenção de ajudar a responder, explicar e traçar condutas. Mas quando se faz isso, quando se estigmatiza um fulano com Esquizofrenia, uma conduta de foco negativo no sofrimento está sendo adotada. Fala-se das limitações, fala-se do que diferencia fulano do resto da sociedade e fala-se, infelizmente, daquilo que NUNCA será possível tratar ou solucionar. Fala-se, portanto, de uma condenação. A partir do momento em que for possível compreender que a coletividade é rica por se tratar de diversas e infinitas possibilidades individuais, será possível também compreender que o sofrimento humano é algo que deveria ser bem-vindo, pois nas nossas diferenças e impasses podemos ser úteis uns aos outros, auxiliando nossas próprias evoluções. Não acredito, como psicoterapeuta, em qualquer imutabilidade. Acredito em estagnação ou ascensão. Aquele que escolhe se manter sintonizado na negatividade do sofrimento, entra em estagnação, aquele que escolhe o caminho do otimismo, cria empoderamento e é capaz de transmutar qualquer coisa.


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