O algoz de nossas vidas
Você está vivendo uma vida verdadeira nos Planos Espirituais, já acostumada às mudanças da vida espiritual, comparando à vida material. Já vivenciou todos os tratamentos possíveis para o seu caso, está livre, em seu perispírito, das chagas da última encarnação. Já consegue sentir amor incondicional, felicidade plena e até perdão por aqueles espíritos que lhe fizeram mal, porque tem a consciência espiritual da vida, do universo, das Leis que regem a reencarnação. Chegou a hora de voltar, você recebeu a oportunidade, pois é a maneira mais rápida de conseguir sanar tudo aquilo que ainda é necessário. Por meio das sessões de telão, vividas nos Planos Espirituais, na presença de seus amigos espirituais, você teve a rememoração de diversas jornadas que teve na Terra, talvez até em outros lugares. Compreendeu o que tem feito em sua caminhada espiritual de evolução, compreendeu por que escolheu vivenciar certas coisas na última encarnação. Compreendeu sobre aqueles espíritos que foram seus algozes. Munida dessa consciência e de todo esse conhecimento sobre você mesma, chega o momento, portanto, de planejar a próxima jornada. Uma grande e misericordiosa oportunidade de retornar, criar laços com espíritos com os quais ainda possua débitos, mas também com aqueles afins, que lhe auxiliarão e aos quais poderá auxiliar. Também escolherá contextos e condições a serem vividas para que possa entrar em contato com seus lados ainda sombrios, aqueles que se manifestam sem dificuldade na Terra, quando submersa em um contexto energético denso, vivenciando experiências materiais. Poderá, quem sabe, escolher uma missão majestosa para sua encarnação. Quem sabe se proponha a ensinar sobre o amor a um grupo específico, quem sabe escolha exercer uma profissão importantíssima, uma vida mediúnica missionária, uma vida na área do ensino, auxiliando diversos espíritos de mesma sintonia... Quem sabe? Muitas opções! Você e seus mentores planejando e imaginando tudo isso e então é feito um projeto encarnatório e você se encaminha para o preparo ao esquecimento, o preparo à encarnação material, mais uma vez...
Você reencarna num novo corpo, inserida em uma família propositalmente escolhida. Dentre tantos pais e mães deste planeta, você escolheu aqueles dois, que lhe receberam, às vezes com muito amor, às vezes com desespero. E se reinicia a vida na Terra, uma infância com características x, uma adolescência com características y, personagens que vão chegando em seu caminho, a vida escolar, os amigos da vizinhança, as avós e avôs. Enfim, toda uma história bem construída.
Até que você chega na sua fase adulta e começa a ser confrontada com questões da sua infância e adolescência. A sociedade e a cultura, acostumadas a visualizar o homem como um ser finito, que nasce sem nenhuma bagagem, como uma folha em branco, lhe ajuda a pensar que todas as mágoas e revoltas que possui agora tiveram seu início em sua infância, por conta da presença desastrosa daquele irmão em sua casa. É simplesmente insuportável e impossível imaginar que poderia existir pessoa como aquele irmão, que além de opressor, violento e autoritário, hoje lhe trata com desprezo, com preconceito e acha você um desastre de mulher, alguém que não sai das asas dos pais, alguém incompetente.
Os anos vão se passando e você cada vez mais submersa nesses sentimentos. Na condição de mulher, acaba por vivenciar várias reproduções do que viveu com o irmão. O chefe, os namorados, homens aleatórios. Todos lhe fazendo se sentir incompetente e inútil, como sempre se sentiu quando ouvia as palavras de seu irmão. Assim a vida vai ficando amargurada, sensível, a tristeza vai tomando conta e inevitavelmente diversos pensamentos catastróficos vão tomando conta. Como poderei ser feliz? Nunca encontrarei uma pessoa que saiba meu verdadeiro valor. Será que eu mesma sei o meu valor? Preciso reagir, preciso ser mais eu, preciso mostrar para todos que tenho valor! Um valor que talvez nem eu mesma mais acredite...
A vida vai passando, você continua sozinha, tentando construir uma família com pessoas inacreditavelmente parecidas com o irmão. Cada fim de relacionamento ou a constatação de que a pessoa é um traste lhe consome por dentro. A cada término a crença de que nunca será feliz lhe consome ainda mais. Começou a ser acompanhada por um psiquiatra, pois pensou que apenas com medicação poderá ser capaz de permanecer viva. A terapia também anda ajudando, ali levanta diversas questões da infância, trabalha uma compreensão alternativa sobre este irmão e as escolhas inconscientes que anda fazendo... Os anos passam... Passam... Os anos passaram e você continua amargurada, triste, solitária, pensando que ninguém vale a pena, com um ódio mortal por aquele irmão que, no leito de morte, de uma doença tão agressiva, queria a sua presença e você não quis aparecer. Também não esteve presente em seu velório. Por que iria comparecer na despedida de uma pessoa que foi o grande desastre da sua vida? Que lhe causou tanto sofrimento e lhe fez entrar num poço sem fim? Deveria ter morrido antes!
Até que então chega o seu dia. De uma forma rápida e inimaginável, chega o seu dia. Você está sozinha, esquentando uma água para seu café. Amanheceu triste porque mais uma vez foi dormir sozinha. Uma dor toma conta do seu peito, tenta se apoiar na bancada da cozinha, ajoelha com dor, não há a quem clamar. Naquele momento sua vida passou pela sua mente, a tristeza bateu até mais forte, pois percebeu que não havia a quem chamar, não havia ninguém por você. E chega a sua hora.
Por misericórdia divina, mesmo numa sintonia de tristeza e amargura, você foi, ainda inconsciente, resgatada por aqueles amigos espirituais que sempre estiveram ao seu lado. Sempre estiveram lhe intuindo e tentando emanar amor e paz. Mas pelas sintonias da vida material, pelos pensamentos, você muitas vezes não conseguiu captar.
Você acorda, de novo, em um local claro, de tratamento, percebe a presença de outros seres, que se colocam à sua volta com um olhar de ternura. Pergunta-se como foi parar ali, como alguém conseguiu te socorrer a tempo. Está feliz por estar viva, talvez comece a repensar sobre tudo o que viveu até então. Deus deve ter sido muito bom com você, lhe salvou a vida. Os seres que lhe rondam pedem calma e tranquilidade. Você adormece e permanece assim até ser totalmente curada, na região do seu coração, por uma luz rósea.
Ao acordar novamente, está de cara com seus amigos espirituais. Apesar de haver alguns detalhes diferentes à sua compreensão, a crença é de que ainda habita seu corpo material. Mas há um pequenino reconhecimento daqueles seres, talvez os tenha visto no trabalho, talvez os tenha visto naquela padaria que sempre frequentou... Mas por que eles estariam ali, à sua volta, depois de um "ataque do coração"? Calmamente eles lhe cumprimentam, apresentam-se e vão lhe contando, com carinho, que já não está mais encarnada. Que a vida é eterna e que aos pouquinhos você iria se recuperar totalmente e poderia começar a viver aquela vida espiritual.
Depois de um tempo, já completamente curada em seu "coração", seus amigos te levam a uma sala, onde se projeta uma espécie de tela. Você se surpreende ao ver você mesma, numa aparência diferente, naquele mesmo local, com aqueles mesmos amigos, planejando viver uma vida ao lado daquele que foi seu irmão. Você se visualiza dizendo, com toda a força que poderia habitar em sua alma, que desta vez gostaria de conseguir, de uma vez por todas, nutrir amor por aquele espírito. Pois esta era, talvez, uma das últimas dívidas que ainda tinha. Pela misericórdia e cuidado de seus mentores, você pôde acessar, também, imagens de uma vida 1000 anos antes da recém terminada. Nesta antiga existência, pôde se ver em corpo masculino, participante de um exército diferente, retirando tudo o que um outro homem tinha, executando sua família e deixando-o completamente sozinho, amargurado, rancoroso, triste. Este homem que fora sua vítima era o revoltado e autoritário irmão da última vida que, ao longo de todos esses anos, assumiu uma postura reativa aos desastres que sofreu nesta outra experiência. Hoje, ambos são espíritos com chagas em seus corações, frequentemente, há 1000 anos, tentando se reencontrar para resgatarem o amor divino que já habitava em seus corações espirituais, mas no coração material ainda constituía mágoa.
Mais uma vez você toma consciência de sua jornada, sente uma paz imensa em seu coração e deseja poder, mais uma vez, voltar e reencontrar aquele espírito. Mas antes é convidada a visitá-lo em seu leito, pois apesar de ter desencarnado antes, ele ainda precisava de muito tratamento para se livrar das impressões daquela doença tão violenta. Você se sente obviamente preparada para o encontro, já que na sua consciência espiritual, aquele não é seu irmão de antes, mas um irmão espiritual, para quem deve muito amor e muita paciência.
O encontro de vocês é muito emocionante. Primeiramente, bate um enorme estranhamento. Pois ele também ainda tinha a consciência de que tinha "sobrevivido" à doença. Mas seu coração se enche de alegria ao te ver sob os pés de sua maca. É que quando a doença começou a atacá-lo, ele teve diversos momentos de repensar sobre suas atitudes e desejava imensamente lhe pedir perdão por tudo o que lhe fez. Mas ele não teve a chance de te ver e compreendia, pois sabia que a mágoa e o rancor eram gigantes. Ali ele estava surpreso de te ver, com tamanho sorriso, com tamanho amor. Pensou que tivesse recebido uma maravilhosa oportunidade de poder se despedir e poder pedir, finalmente, o perdão tão desejado. Você o abraça com amor e é capaz de passar a ele uma energia tão bonita, que suas feridas até melhoram um pouco. Olhando em seus olhos você diz, com ternura, que aquela não era uma oportunidade de se despedir, mas de dizer, mais uma vez, um caloroso "olá", pois suas jornadas estavam apenas começando. Dali em diante, juntos, consumiriam o amor incondicional que habitava em seus corações e, pela sorte que receberam, poderiam voltar mais uma vez, na feliz oportunidade de se resgatarem finalmente.
Esta crônica, que traz uma história aleatória de dois personagens, vem a retratar um tema importantíssimo para o raciocínio reencarnacionista que muito tem a nos libertar de nossas ilusões terrenas. Aquela moça, que teve a oportunidade de encarnar com aquele irmão, quando espírito, nada mais queria do que aprender a perdoar aquele irmão e, com seu amor, auxiliá-lo a ser uma pessoa diferente. Pois na consciência espiritual que tinha, sabia que grande parte daquela amargura de seu coração havia sido causada pela antiga atitude que tivera, ao retirar seus bens preciosos e deixá-lo em grande sofrimento. Mas nesta experiência, ele, provavelmente com alguma rememoração inconsciente de sua antiga existência, impetrou contra você diversas palavras ofensivas, buscou, dentro do que compreendemos por projeção, deslocar toda a dor que continha no coração e lhe subjugou como foi subjugado. A você, aquilo foi visto como uma injustiça, como atitudes de uma pessoa perversa e em desequilíbrio, que merecia ter sua vida encurtada, pois representava tudo o que havia de pior no mundo. Não obstante, ele ainda representava um grande corte na sua dignidade, pois todos os outros homens que cruzaram sua vida, lhe faziam sentir da mesma maneira: fracassada, sozinha, abandonada...
Na sua consciência espiritual, você sabia que atraía essas circunstâncias por uma mera questão de sintonia. Pois só assim seria possível enxergar o que habitava em seu próprio coração e escolher novos caminhos. Na sua consciência espiritual, o irmão até tinha um certo "direito" de lhe cobrar inconscientemente e a sua proposta era ultrapassar tudo isso e sentir amor incondicional, mesmo que dentro das suas limitações.
Mas mais uma encarnação foi vivida e novamente vocês falharam em aprenderem sobre o verdadeiro amor. Que não mais os sentimentos de vitimismo pairem seus pensamentos. Que não mais esqueça que, frequentemente, o mal que recebemos é o mal que já demos. Não esqueça, jamais, que frequentemente nossos maiores algozes são nossos maiores missionários. E viva sempre consciente de que é um espírito em uma jornada material, em busca de suas heranças transcedentais, dos reajustes e resgates, em nome de um grande bem maior, ainda incompreensível aos olhos dos homens.
Obrigada.
ResponderExcluirEste é um belo presente de Natal.
Além de apresentar o propósito da rememoração de momentos decisivos da nossa Vida Eterna, já experienciados em reencarnações pregressas, também nos demonstra o quanto é investido por nós mesmos e para nós, na bendita e rica oportunidade da reencarnação.
Enchergo minha própria experiência terapêutica com clareza, embora os laços entre os personagens seja de natureza diferente.
Deus abençoe seu trabalho e sua equipe!
Obrigada.