Estudo de caso: um sonho possível
Alice é uma mulher que busca retomar a vida completamente, após uma relação conturbada com o ex marido. Durante anos, viveu uma relação abusiva com ele, sentindo-se sempre cerceada, sendo colocada para baixo, tendo que aceitar exigências e determinações, sem muitas escolhas. Depois de anos vivenciando essa realidade, tomou coragem para terminar seu casamento e ainda precisou enfrentar algum tempo de perseguições, tentativas de volta e até ameaças. Alice é mãe de quatro filhos, atualmente vive com o pai. O desencarne de sua mãe, pessoa com a qual tinha uma grande ligação, a fez sofrer muito, tendo a sensação de ter "perdido o chão".
Atualmente se relaciona com um rapaz que gosta bastante, mas até buscar a Psicoterapia Reencarnacionista, sentia que estava se sabotando, pois até tentou ter outros relacionamentos após seu ex-marido, mas nunca os levou adiante. Ela sempre acabava querendo ficar sozinha, trancar-se no quarto e ficar com ela mesma. Este recente relacionamento a tem trazido momentos bons, momentos de leveza, mas Alice está se sentindo extremamente magoada porque sente que a família, os filhos e o pai, não aceitam este rapaz. Ela não sabe ao certo o porquê. Mas isso a incomoda muito. Por vezes se vê saindo escondida com ele, para não desagradar o pai. Sente falta dos filhos por perto, porque sempre foi o centro da família. E sendo o centro da família, sempre foi o porto seguro. Isso a fazia se sentir segura, porque sabia por onde todos andavam e o que estavam fazendo, sabia que eles voltariam a ela sempre. Com o atual namoro, os filhos têm se afastado. Ela se sente magoada e por vezes pensa em desistir de tudo para voltar a ter "uma vida normal". Alice tem um pouco de dificuldade de colocar pra fora o que está pensando ou sentindo, por isso experimenta, há bons anos, uma característica somatização. Por vezes está sentindo dores no corpo inteiro ou em pontos muito específicos, que nos lembram até mesmo dos desequilíbrios energéticos ocasionados por padrões de pensamentos e sentimentos...
Esta vida relatada veio na segunda regressão vivida por Alice. Em sua primeira, muitos assuntos referentes a seu quadro atual já lhe foram mostrados. Desta vez, os mentores trouxeram algumas reflexões a mais, além de algumas informações que já haviam sido mostradas nas outras duas vidas acessadas antes. Vamos mergulhar?
"Eu entrei num túnel e do outro lado cheio de árvores e flores. Visto vestido branco esvoaçante. Tem um rapaz do lado. Estou muito alegre. Ele vem na minha direção brincando, faz uma guirlanda de flores e põe na minha cabeça. Ele veste roupa branca, com calça dobrada na perna, descalço. Eu também (descalça). Corremos ali, parece um corredor de flores , estamos muito alegres. Brincamos como se não houvesse mais ninguém no mundo. Corro na frente e ele me alcança. Sensação de alegria, paz, felicidade, tranquilidade... Corremos incansavelmente. Brincando, sorrindo, ora eu escondo, ora ele. Sou abraçada, acolhida. Brincando, correndo nesse bosque, como um corredor fechado de árvores. Sou muito jovem e ele também. Nós só queremos ficar ali. Parece que não temos para onde voltar. Ele é bem branco, olhos azuis, é lindo. Estou muito feliz com ele. Só ficamos ali, correndo, brincando, apanhando as flores.
Vejo uma casa bem longe, no final desse túnel de flores. Vamos em direção a ela. Ele me carrega no colo e caminha em direção à casa. Parece uma montanha... Venta muito, vento gostoso, frio. Na porta saiu um homem vestido como um coronel, botas longas, chapéu, tem arma na cintura. Um cavalo. Parece que ele está esperando que cheguemos lá. Mas eu não sinto mais a mesma alegria de antes. Dá um pouco de receio de chegar perto dele. Ele é meu pai. Tem o rosto muito fechado, começamos a diminuir o passo, como se não quiséssemos chegar logo. Mas ele fica ali esperando a gente chegar. Nos aproximamos da casa e o olhar é reprovador. Me assusta um pouco, de estar desagradando. Ele monta num cavalo e sai. Fico em pé olhando. Até ele sumir na estrada, galopando. Mas eu fico triste com o olhar de reprovação dele.
Sentamos na calçada. Me sinto triste e começo a rabiscar com um graveto no chão. Ele percebe que estou triste, preocupada, mas não diz nada. Só me acolhe com seu abraço. Tem umas mulheres na casa, eu ouço conversas. São empregadas da casa. Agora vejo indo na direção da minha mãe, uma senhora. Ela nos convida para entrar, oferece uma xícara de chá. Ele aceita, toma o chá. Se despede dela e sai. Eu vou para o meu quarto e fico na minha cama ainda com a guirlanda na cabeça, os pés sujos de areia. Mas eu quero ficar ali no quarto deitada, ainda pensando no olhar de reprovação do meu pai,
Fico pensando quando ele voltar, será que vai brigar comigo? Fico preocupada. Saio do quarto e procuro uma das empregadas. Ela é negra, me abraça com tanto carinho. E eu conto a ela que estou triste com o olhar de reprovação. Ela tenta me acalmar, conversar comigo. Eu sinto que ela gosta de mim, tem muito carinho por mim. Vamos para o lado de fora da casa. Tem uma casa grande no quintal, acho que é onde as criadas dormem. Ela me leva pra lá, faz tranças no meu cabelo que é longo, conta histórias do seu povo, conta histórias em que ela brincava, muito engraçado, me faz rir, rimos muito. Agora me manda ir tomar banho e tirar a roupa suja de areia. Já estou me sentindo mais aliviada depois do aconchego dela. Meu pai chega, ele volta, estão chamando para eu ir à mesa almoçar. Sinto um pouco de vergonha, não quero olhar pro meu pai. Mas eu nem sei por que estou com vergonha. Mas ele não fala nada comigo. Minha mãe tenta conversar algo, mas ele corta o assunto e todos ficam em silêncio. Eu só quero terminar o almoço para voltar pro meu quarto.
Estou pensando no rapaz, mas não sei como fazer para encontrá-lo. Parece que ele mora muito distante, eu não consigo visualizar onde ele mora. Começo a sentir tristeza. Não sei se ele vai voltar. Eu sinto vontade de ir àquele lugar de novo. Talvez eu o encontre lá. Mas eu não tenho coragem de ir sozinha.
Eu volto pro meu quarto e pego como se fosse um caderno diferente, capa bordada bonita, como se fosse diário. E eu começo a escrever. Falo do meu amor por ele, do sentimento que sinto por ele. Eu estou chorando. Medo de não vê-lo, não encontrá-lo. A tinta derrama no meu diário e fica todo borrado, com a poesia que escrevi pra ele. Minha mãe entra no quarto, eu preciso esconder meu diário. Eu escondi debaixo da cama. Eu queria tanto falar para ela sobre ele. Mas eu não sinto coragem de falar. Eu acho que ela não vai entender, não vai me ajudar.
Vou procurar aquela empregada, ela se chama Luci. A Luci vai voltar comigo amanhã, naquele bosque. Talvez eu possa encontrá-lo lá naquele ambiente. Meus pais se arrumam para ir à igreja. E eu tenho que ir com eles. Mas vou avisar à Luci que quando eu voltar, nós podemos ir lá, naquele bosque.
Estou muito agitada na igreja, torcendo para que acabe logo. Voltamos pra casa e a Luci vai comigo até o bosque. Estou alegre de novo. Chegamos naquele local onde eu estive com ele. O vento sopra tão forte... Não!!! Aparece um homem e está levando ele, arrastando ele, aquele homem gordo¹! A Luci me segura e não deixa eu ver. Aquele homem com cara de mal está levando ele embora. A Luci corre comigo para casa com medo. Por que ele está fazendo isso? Não quero mais ver ninguém, não quero sair daqui, quero ficar aqui no quarto, não vou mais sair daqui. Eu tou sofrendo muito. Por que aquele homem fez aquilo com meu noivo? Ele era meu amor! Eu sonhava em casar com ele. Por que fizeram isso com ele? A Luci me conta que ouviu meu pai dizer que ele nunca mais apareceria lá, que ele foi mandado para bem longe. Eu nunca mais vou sair daqui... Nunca mais! Por que meu pai fez isso? Por que eu não podia ser feliz com ele? Aquele homem é mau!
Fui ficando muito doente, febre muito alta, que vai consumindo meu corpo. Muito fraca, não consigo mais comer. A Luci fica comigo, ela me consola. Mas eu quero morrer. Nada mais vai me trazer alegria. Eu não tomo os remédios que eles me dão, porque eu não quero viver. Meu peito tem uma tristeza profunda. Eu não tenho mais força para nada. A cada dia estou ficando mais fraca. Minha mãe chora muito. Meu pai parece se sentir culpado, mas não faz nada para mudar isso. Como não há mais tempo, não há mais nada para fazer... Eu estou me despedindo dessa vida...
Eu agora posso voltar àquele lugar quantas vezes eu quiser, a forma que eu quiser. Eu o procuro em todos os lugares que a gente passou, mas eu não o vejo mais ali. Talvez se eu ficar sentada aqui esperando, talvez ele apareça. Ele não pode me ver, mas eu vejo, se ele aparecer. Eu fico ali por algum tempo, não sei quanto, mas ele não apareceu.
Uma moça linda me encontra e me conduz com ela. Flutuamos tanto, eu flutuo por cima do bosque, como se quisesse encontrá-lo, mas não vejo mais. Então eu sigo com ela. Para um tratamento. Estou muito frágil e fraca ainda. Adormeço por muito tempo. Sem me dar conta de onde estou.
Despertei num lugar de paz, de tranquilidade. Essa mulher parece que me conhece tão bem! Ela me diz que eu preciso praticar o perdão. "Os ciclos se repetem", ela diz. Mas o que isso significa? Eu não entendo. Por quantas vezes eu preciso voltar para encontrá-lo? Para viver esse grande amor? "Algumas vezes" diz ela. Mas o que eu preciso aprender? A me livrar do medo? Preciso então ficar algum tempo aqui para aprender...
Fui me sentindo mais forte, sentindo mais coragem. E acho que estou pronta para voltar... Tem tanta clareza, tanta certeza de que na próxima você pode fazer tudo melhor, a compreensão é tão perfeita. Essa certeza que impulsiona o desejo de voltar, porque pode fazer diferente, pode fazer melhor...
Eu desejo voltar com a clareza do perdão, da compreensão... Será que eu vou conseguir? Às vezes eu prefiro ficar aqui. Embora por todo o aprendizado, por toda a compreensão, esse ciclo já se repetiu e eu não consegui. Talvez preciso ficar mais um pouco... Se eu tenho que voltar a conviver com o mesmo dessas vidas.
Continuo estudando, aprimorando. Tentando compreender tudo o que eu vivi. Mas acho que não os perdoei de todo. Ainda é necessário ficar mais um tempo, para que eu possa perdoá-los, para que eu possa compreender verdadeiramente tudo o que aconteceu e só assim estarei pronta para retornar.
Eu continuo ali por um longo tempo... Agora estou ficando em paz... Eu os reencontrei aqui. Essa moça me falou que meu pai está passando pelo aprendizado, que ainda reluta muito em compreender sobre seu desencarne, que ele sente muita culpa. Eu peço para vê-lo, mas não é permitido ainda.
Eu pergunto a ela se o meu amor e o meu perdão podem ajudá-lo a superar, a ter compreensão, a se perdoar e me perdoar. Ela sente que sim. Eu estou em paz, estou leve... Agora estou tranquila, sei que ele vai ficar bem também. Me sinto envolvida num grande clarão, como se houvesse uma luz enorme me envolvendo. Vai mudando de cor, azul, lilás, estou envolta por essa luz..."
Na vida mostrada desta vez, percebemos que esta persona, vivida por esta moça, sentia-se extremamente feliz e leve vivendo uma relação com um rapaz por quem sentia fortes sentimentos. No entanto, era extremamente agoniante para ela perceber o desagrado do pai. Ela não tinha coragem de manifestar seu desejo, conversar com ele sobre o assunto, ou qualquer coisa do gênero. Ao contrário, sentia-se muito magoada por poder estar incomodando. Mas encontrou em sua amiga Luci um porto seguro para poder desabafar. Ao lidar com a perda do rapaz, que foi pego por um homem e levado para muito longe, perdeu a razão de sua vida. Não viu outra saída a não ser ficar o resto de seus dias no quarto, isolada, sem querer ver ninguém. O desencarne dela acabou ocorrendo e, ao chegar nos Planos Espirituais, foi aconselhada a aprender a perdoar, para finalmente se libertar e compreender o que ocorreu. Passou muito tempo aprendendo inúmeras coisas até se sentir preparada para voltar.
Percebemos que Alice tem uma grande dificuldade com as perdas. Isso já havia sido mostrado nas outras duas vidas acessadas em que, ao vivenciar perdas muito importantes para ela, acabou "desistindo" de viver e foi levando os dias como podia. Isso novamente é mostrado nesta vida acessada, motivo pelo qual a fez ir desistindo da própria existência novamente e acabou desencarnando. Na vida atual, as perdas de Alice também a desestruturaram muito. A primeira vontade que ela tinha era se trancar para sempre dentro do quarto e não sair mais. A morte de sua mãe e a mudança de seu filho para outro estado, foram momentos muito dolorosos e difíceis para ela.
Percebemos que uma maneira que Alice encontrou de se proteger dessas perdas tão dolorosas era exercer um certo controle sobre os filhos. Mas não um controle maléfico. Ela os mantinha muito perto, sempre cuidou muito deles e os amparou em absolutamente tudo o que precisavam. Essa era uma maneira de sentir-se segura de que tinha o domínio de tudo o que ocorria e podia, de certa maneira, impedir as imprevisibilidades da vida. Os filhos a viam como uma base, sempre recorriam a ela para tudo. Era uma relação de dupla gratificação. Mas isso fazia com que Alice manifestasse sua velha tendência a não manifestar exatamente o que sentia ou queria. Por vezes fez coisas para agradá-los, para mantê-los por perto, mesmo passando por cima de si mesma, ou mesmo se limitando de apreciar a própria vida.
Atualmente Alice deseja levar uma vida própria, com uma menor dependência de seus filhos. Deseja poder ter uma relação amorosa saudável, mas o incômodo de sua família em relação a seu relacionamento, que ela percebeu ser mais uma interpretação dela, do que de fato um grande incômodo explícito, a tem feito pensar em desistir de tudo e manter-se em seu quarto. Por um lado, não quer desagradar a família, o que também foi mostrado como um padrão de comportamento nesta vida acessada. Ao querer agradá-los, ao se preocupar com o que eles querem, desejam, ao não querer que eles se afastem e ela perca o "controle" da situação, talvez ela esteja tendo dificuldades em ser assertiva, em ser firme em relação ao que quer para sua vida e então fica neste impasse.
Mas Alice já percebeu o que ocorreu nesta vida acessada quando ela não foi assertiva por se preocupar muito com o incômodo de seu pai: ela perdeu a oportunidade de viver algo que podia ser bacana e, de frente a esta grande perda, desistiu da própria vida. Alice percebeu que é necessário saber o que se quer e lutar por isso. Percebeu que é impossível agradar a todos e que, às vezes, ao se preocupar demais em não desagradar as pessoas, pode estar interpretando o afastamento de seus filhos como algo muito mais sério do que realmente está ocorrendo... Ela precisará aprender a ser assertiva, a saber dentro do seu coração o que realmente quer e se preocupar menos se está incomodando outras pessoas. Talvez assim ela consiga viver, finalmente, o que deseja em seu coração, sem medo de ser feliz.
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¹ Alice frequentemente tem duros pesadelos e acorda com medo, chorando. Em alguns desses pesadelos, já havia visto este personagem, que a fez sentir muito receio. Ela o reconheceu quando acessou essa vida.
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