Estudo de caso: A mediunidade da índia





Júlia é uma mulher de 30 e poucos anos, que estava sofrendo de uma condição de saúde delicada e inexplicável: a partir do olfato, ao sentir qualquer cheiro mais forte, iniciava episódios de náuseas, enjoos, falta de ar, taquicardia, ansiedade extrema e sensações de que estava prestes a morrer. A medicina tradicional sempre a tratou como alérgica, mas mesmo passando por esses tratamentos, esses episódios viviam se repetindo. Essa situação fez com que ela precisasse abandonar as atividades cotidianas e buscasse evitar contatos com o mundo externo à sua casa, o que estava trazendo bastante sofrimento, uma vez que ela sempre foi uma mulher independente, dona de si, inteligente e autossuficiente. 
Júlia é de uma família acostumada às manifestações mediúnicas. Sua mãe, médium inconsciente, desenvolveu trabalhos na linha da Umbanda e, há alguns anos, resolveu ir para a Doutrina Espírita em busca de conhecimentos. Júlia esteve presente nos momentos em que os trabalhos umbandistas eram realizados, dando suporte e auxílio com sua mediunidade de vidência. Mas ao finalizarem os trabalhos e buscarem os conhecimentos do espiritismo, Júlia acabou abandonando os estudos e se afastou por completo das atividades e aprendizados mediúnicos. Além disso, nas palavras dela, a morte brutal do irmão há alguns anos talvez pudesse ser um dos motivos pelos quais ela começou a ficar mal. 
Essa é a última de uma série de regressões pelas quais ela passou. Retratando um pouco do que ela estava vivenciando no momento atual e trazendo algumas explicações sobre sua Reforma Íntima e sensações vividas nos três últimos anos. Vamos mergulhar?

"Eu vejo umas árvores, mas logo antes eu vi uma oca. Muito de longe, com uma entradinha, tudo de palha. Tá meio escuro, não consigo enxergar bem. Acho que é de noite. Eu vejo um homem com um cocar grande, penas brancas, pontas alaranjadas, vermelhas, não sei. Vejo pessoas em volta dele. Tem uma menina agachada no chão, aquele índio está falando palavras, discursando, está de noite. 
Vejo uma mão, tá pegando alguma coisa de madeira. É índia que está trabalhando de dia em alguma coisa, tá ali no dia a dia dela, os homens estão no mato e ela está ali trabalhando. Os dias passam e ela continua daquele jeito, trabalhando. Não vê sentido no trabalho que faz, não se sente encaixada. Sabe que no seu coração ela tem outras habilidades, mas ali não servem, ela tem que construir. Ela se chateia, quer mostrar aquelas coisas pros outros. Entra de cabeça baixa, vai conversar com o Pajé. Fala que pode ajudar os homens pois que ela vê pra frente. Ele diz que o momento não é mais de guerra. Ela diz que sabe que terá batalha, pois viu nos sonhos. Ele diz que é momento de ter esperança. Ela sai chateada com um pedaço de madeira na mão. 
Vejo algo muito brilhante, parece até prata, não sei o que é. Ela tá caminhando à noite, só vejo a silhueta escura, andando. Ela olha para a água, pras árvores, coloca a mão no chão, sente a terra molhada. Não se sente parte daquilo, ela sabe que pode mais, tem que mostrar para alguém. Vai até o cacique, fala que se ele fizer alguma coisa específica ele vai ganhar a batalha. 'Como você pode ter certeza?' ele pergunta. Ela fala que pode mostrar, leva-o a um canto, puxa alguma coisa e corta o pescoço. Pega o sangue nas mãos e mostra a ele que se ele fizer alguma coisa ele vence a batalha. Ele olha assustado. 
Vejo índios saindo à noite. Estão devagar, abaixados. Tem uma marca preta nos olhos, vão pelo caminho que ela falou. Minhas mãos estão dormentes. Parece que acontece uma batalha muito forte, eles encontram a tribo rival, ficam se batendo. Jogando a lança. Tem o rosto da índia, alguém pisa na mão dela com o pé, pega o machado e corta a mão dela fora, ela chora muito. Parece que a tribo está perdendo a batalha que ela viu em sonho. Arrastam ela pro Pajé da outra tribo. 'Você foi muito bem avisada que o caminho da batalha não é o melhor, mas o da paz, do companheirismo'. Ela senta nos joelhos e fala que tinha sonhado que ia dar certo. 'Existe um motivo que você não está na linha do Pajé, precisa de muito trabalho, até desenvolver e identificar o que pode e não pode. N[os somos irmãos, da própria terra e entramos em batalha, quantos morreram? Muitos estão lá pensando em você'. Vejo-a de cabeça para baixo, colocam um funil de palha dentro das narinas e despejam formigas, ela grita muito. Acho que as formigas "comeram" tudo dela ali, a cabeça, não sobrou nada... 
Vejo-a caminhando bem magra, sem a mão, sozinha, no escuro. Vendo umas caveiras, dá muito medo nela. Parece que tem tochas do lado, tudo com uma névoa. Ela caminha, olha pros lados, não consegue ver, não sabe onde está. Parece que passa muito tempo, só se lamente o que fez, achava que ia dar certo. Passa muito tempo, tá sentada. Começa a pensar que o Pajé tava certo. Nenhuma batalha é boa. Como ela poderia ter certeza mesmo tendo visto? Agora está com um buraco na cabeça. Ela tenta pegar coisas, sentir cheiros, não sente. Só sente frio e dor onde tinha a mão. Pede ajuda, com muita força no coração, pede perdão, ela não quer ficar ali, quer continuar, melhorar. Vem um cavalo gigantesco, um índio muito forte, muita luz. É tão forte, que parece que cega os que estão ali, carrega algo nas mãos, uma lança ou uma pena, não sei. Olha para baixo e fala para ela se erguer com os pés. Ela levanta. Ele a põe no cavalo. Ela é muito pequena perto dele.
Parece que onde ele passa na escuridão, vai abrindo essa "massa" com o cavalo. Ela olha pra trás e vê tudo aquilo. Chega num lugar com grama bonita. Ele a desce, carrega no braço. Tem uma casa com um símbolo em cima. Leva-a para aquele lugar. Pilastras altas, grama no chão. Ele a deita. Vem outros índios, colocam a mão pra cima, fazem prece, vem luz do céu que parece reconstruí-la todinha. Ela toca o rosto, o rosto está cheio, não falta nenhum pedaço. Agradece, ele sai andando com ela por ali. É muito bonito. Ao meio parece que tem uma luz que parece uma cortina que desce, muito brilhante. Ali para a esquerda há uma cachoeira grande e bonita, parece que quando os espíritos estão muito ruins entram e saem revigorados. Ali em cima tem um pessoal muito velho sentado conversando com pessoas. Mais acima tem um teto redondo, mais à esquerda e mais para baixo tem uma casa que parece um albergue, amarelo. À direita, outra cachoeira com plantas. Ela senta ali, aquele índio fala 'olha, minha filha, tá na hora de você ver todas as suas vidas. Você pode ver, para se lembrar. Aqui não precisa ter o esquecimento, você precisa lembrar'. Leva-a para uma "pia gigante", tem uma água. Ela olha, encosta a mão, fala o nome dela. Vai para uma parede branca, encosta na parede e na frente dela ela vê todas as vidas dela, numa velocidade rápida. Ela sabe que ela é um espírito que faz parte daquele lugar, da Terra, teve muitas passagens. Não importa o que ela fez, se fez mal para si, mas ali ela viu coisas que prometeu fazer e melhorar e não fez. O índio fala 'minha filha, esse seu pai sabe que é difícil. As coisas que a gente faz mal e faz bem não toca no coração, porque teremos outras chances, mas as coisas que prometeu...Aí dói, né?'
'Eu prometi que ia seguir a linha do Pajé, que ia ajudar, cuidar da saúde, gostar do meu corpo, ajudar aquela criança, ouvir mais, ser melhor, eu deixei por pura inércia' ela diz. 'Não tem problema, já viu as vidas, sabe quem é seu espírito. No momento que saiu do caminho, decidiu pelo caminho doloroso. A força da Lua e dos matos estão sempre aí. Quando não dá, tem que ter humildade e pedir ajuda, a gente te ama, mas a gente respeita suas escolhas. Minha filha é espírito tão bonito, feita pelos olhos de Deus, assim como todos aqui' ele diz. 'Mas dói porque eu prometi seguir aquela linha e fiz outras coisas' ela diz. 'Não se preocupe, minha filha terá a oportunidade de reencarnar, mas veja o valor da promessa do espírito. Veja o valor do corpo, do trabalho espiritual na Terra. Minha filha não teve a força para seguir a linha do Pajé. Minha filha precisa se perdoar e seguir, só você pode fazer suas escolhas, aqui é tudo força de Oxalá' ele disse. 
Ela dá um sorriso muito bonito. Sente-se muito bem, feliz, vê que não existe culpa, que tudo faz parte dos planos de Deus. Narizinho no lugar, tudo faz parte. O que será que vai prometer?
Vejo ela embaixo de uma cachoeira, vindo todas as forças de Jesus. Ela se sente tão grande junto àquele espírito de luz, o tamanho do espírito é o tamanho do amor no coração. Aprendeu a amar aquele espírito que Deus deu para ela. Vejo uns brilhinhos flutuando. Me sinto bem, muito bem..."

Com esta regressão, Júlia percebeu que muito do que estava vivenciando nos últimos anos tem ressonância com essa experiência. Há três anos, sua mediunidade se transformou, sua vidência amentou, passou a ter mais sonhos, passou por algumas experiências de incorporação e, ao buscar a Doutrina Espírita, sentiu que tudo ficou mais forte. Mas ela decidiu abandonar os estudos, não se sentia parte daquela doutrina. Isso tudo ocorreu ao mesmo tempo em que sua situação de saúde ia ficando pior. A ligação da questão do olfato e dos episódios de ansiedade extrema, com a questão do desencarne desta vida acessada é gigante. Ela estava diante de um momento da vida em que sua mediunidade passaria por transformações enormes, para que ela tivesse a oportunidade de seguir a "Linha certa", desenvolver-se e utilizar sua sensibilidade para auxiliar as pessoas. Mas ao abandonar essa linha, ao se negar a estudar e se desenvolver, passou a sentir todas as ressonâncias e consequências dessa escolha. Será que ela, enquanto espírito, escolheu vivenciar isso para que visse sua mediunidade com outros olhos? Para que exercitasse a humildade falada por aquele índio e pedisse ajuda? Para perceber que o melhor caminho é o do amor e da caridade? 
Hoje Júlia já compreende melhor sobre o seu quadro, sente melhoras significativas e decidiu, por seu livre arbítrio, seguir uma linha de caridade na qual poderá desenvolver toda essa sensibilidade e ter mais segurança para saber o que de fato está vendo e o que de fato pode ser dito. Esta foi mais uma maravilhosa oportunidade de compreensão, conscientização e desligamento de sintonias com o passado. 


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