Os reencontros
A Psicologia já defenderia que nossa concepção de Eu ou de Self se constrói a partir de nossas experiências com o outro. A Autopercepção está intimamente ligada à Relação Interpessoal, pois é no outro que se consolida nossa visão de Eu, nossa consciência de individualidade, nossos reconhecimentos, nossas projeções, identificações... Engraçado é portanto pensar que, se o Eu faz parte do que é o Outro, a teoria de que cada um de nós parte de uma origem só é plenamente coerente. Nossas relações, nossas trocas, todos os aprendizados que retiramos de interações, nada mais são do que momentos diversos de espelhamento, que nos influenciam sentimentos e sensações, trabalham nossas dificuldades e aumentam nossas virtudes. Quantas vezes nos pegamos criticando no outro aquilo que há de mais difícil em nós e por algum motivo nos negamos a enxergar? Quantas vezes nos deparamos com relações conflitantes em que o outro parece possuir exatamente aquilo que precisamos para que nossas dificuldades se aflorem e possamos trabalhá-las?
Talvez, pensar que partimos dessa origem em comum significa pensar que, ao assumirmos diversas personas e ao nos relacionarmos com outros, estamos, na verdade, vivenciando uma ilusão momentânea que tem a principal função de nos trabalhar espiritualmente para que um dia retornemos ao todo. Mas esse retorno não se dá de uma forma individual e única. É como se cada um de nós fosse parte de um "braço" desse todo e com a evolução de um, a evolução do outro é também estimulada. Ao mesmo tempo, estamos nesse enorme jogo de Eu e Outro, vendo-nos em nós mesmos, vendo-nos nos outros e os outros se vendo em nós. Será porque, na verdade, somos todos parte de um só e, na verdade, nossas individualidades são pequenas ilusões?
Ao mesmo tempo, percebemos relações conflitantes muito perto de nós. Quantas famílias estão configuradas de uma maneira complexa, gerando sofrimento para algumas pessoas, nesse constante jogo de aceitações e mudanças? De fato, nossas relações familiares são o berço de nossas principais consolidações de personalidade, com elas aprendemos a ser quem somos, retiramos boas lições, vivenciamos contradições que colocam à prova nossa integridade. Será que há motivos para que cada família seja moldada de cada maneira? Podemos falar em reencontros espirituais, que visam reparar relações conflitantes anteriores? Podemos falar de espíritos que, para evoluírem, necessitam aprender a amar um ao outro, independente das pequenas ilusões egóicas que vivenciamos todos os dias? Por outro lado, há também as relações extremamente pacificas, agradáveis, que parecem verdadeiros reencontros de velhos amigos, não apresentando nenhuma dificuldade aparente, pelo contrário, parece ser uma grande oportunidade de reviver momentos bons e continuar aprendendo com um amor que já é existente.
Quero propor, portanto, uma reflexão e uma análise acerca de nossa concepção de Eu. Será que você é o que pensa que é? Ou apenas está o que pensa que é? Será que podemos viver nossas vidas apoiados na ilusão de Ego que construímos em torno de uma persona material que, com o tempo, retornará à sua verdadeira origem, igual a todos, nem melhor, nem pior, apenas em evolução? Quantas vezes você se deparou com atitudes defensivas e autoritárias que justificam diversos sentimentos destrutivos e desagradáveis, pois esteve se apoiando na ilusão de que você é essa persona que possui seu nome, sua idade e suas características físicas e está se relacionando com outras personas- diferentes de você- que por algum motivo afloram suas inferioridades? Qual o verdadeiro motivo de precisarmos vivenciar essas relações, senão a utilidade de entrarmos em contato com uma gigantesca impressão de que somos o que somos e continuaremos a ser, independente do que façamos?
Talvez, quando assumirmos sermos todos parte de uma coisa só, enxergaremos que quando nos esforçamos para nos diferenciar e, por vezes, assumimos condutas destrutivas, estamos, na verdade, mergulhando ainda mais em uma ilusão que nos faz perder "o fio da meada". Por trás dessas atitudes defensivas, agressivas, negativas, está uma oportunidade de ver os acontecimentos e as relações sob um ponto de vista diverso, expandir, abstrair, usar todo o potencial criativo para se imaginar que, no fundo, de maneira bem profunda, estamos constantemente na oportunidade de nos modificar e modificar o outro, que no fim das contas, significa modificar um todo. Esse todo do qual fazemos parte, que nos define como individuais.
Adorei seu texto...me indentifiquei Ana...bjs de luz...ah...compartilhei ok!!!
ResponderExcluirObrigada, Renata! Volte sempre!
Excluir